quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Arte de Comer Caranguejos



Férias na Paraíba representam um período de pouco descanso, pois é tanta saudade pra matar que acho até injusto dormir. Ao mesmo tempo, é um período de verdadeiras orgias gastronômicas. Pudera, é mãe, avó e tias querendo me agradar de uma maneira infalível, pelo estômago. Dentre as iguarias, se destacam a buchada de bode, a galinha de capoeira na cabidela (galinha caipira numa espécie de molho pardo), doces e sucos nativos e, claro, caranguejo.

Desde criança eu era acostumado a consumir o crustáceo e ainda considero o caranguejo como uma de minhas comidas prediletas (a primeira é o camarão). Apesar do meu amor pelo bicho, percebi o quanto ele é incomum em outros lugares, como o RS e SP, lugares onde morei. Um episódio memorável foi quando eu tinha uns 13 anos e passava as férias na casa de minha avó em Alagoa Grande-PB. Naquela ocasião eu e minhas irmãs convidamos nossa amiga Calliandra (irmã de meu amigo Alamo) para jantar conosco. Aí, como Calliandra era visita, minha tia serviu primeiro no prato dela um caranguejão dos grandes, provocando um grito inesperado “Aaaaiii! Meu Deus! O que é issoooo?” e a família toda de boca aberta olhou pra ela e disse: “caranguejo”. Como ela havia morado na Espanha, realmente não se lembrava dessa delícia, portanto, não comeu. Em outras ocasiões, colegas do RS comentaram as oportunidades em que comeram caranguejo por ocasião dos congressos de Recife e Aracajú, sendo que boa parte lamentaram a experiência por dois motivos: pouca carne e muito trabalho para comer.

Assim, eis que venho nessa postagem compartilhar um pouco da arte caranguejeira que trago comigo. Pra começar, vamos direto ao habitat natural do caranguejo, o mangue. O mangue é um ambiente de transição, riquíssimo em biodiversidade, sendo que boa parte dos seres que lá vivem (animais e plantas) são endógenos, ou seja, só existem nesse tipo de ambiente. A importância do mangue é indiscutível, pois ele também serve como “berçário” para diversas espécies marinhas. Infelizmente, o crescimento urbano desordenado, a poluição, o desmatamento e a caça e pesca predatória têm ocasionado a degradação do mangue e das espécies que lá residem. Confesso que minha ignorância em relação a esses ambientes é grande, porém tenho interesse em aprender, principalmente por que o diagnóstico ambiental é uma de minhas áreas de atuação. Em relação ao caranguejo, tenho ficado apreensivo, pois como consumidor consciente eu tenho que saber a procedência do animal, se foi caçado respeitando o período de “defeso”, ou seja, períodos em que a captura de caranguejos é suspensa para que os mesmos possam acasalar e reproduzir. No início desse ano o IBAMA definiu diversos períodos de defeso e penalidades à quem caça, compra e vende caranguejos. Achei curioso, pois ao invés do defeso durar um mês inteiro ou algo tipo, dura de 5-6 dias seguidos de intervalos onde a captura é permitida. O problema: como provar que os caranguejos apreendidos não foram capturados durante o defeso? Tenho muito interesse de que a atividade caranguejeira seja seriamente regulamentada com base nos princípios da sustentabilidade, que beneficie e permita o desenvolvimento das populações que dependem dessa atividade, que nos proporcione o suprimento dessa iguaria com qualidade e que, ao mesmo tempo, conserve os mangues, dada a sua importância ambiental.

Como animal, o caranguejo é um ser curioso, tem a cabeça colada ao tórax, duas patolas (garras ou quelíceras) potentes (nos machos uma é maior que a outra), olhos guardados numa loca e anda de lado. Seria um alienígena? Não, apenas um sobrevivente como nós, cuja evolução o trouxe das eras primitivas aos dias atuais.

"Cordas" de caranguejo sendo transportadas do mangue para serem vendidas nas cidades

Aqui na PB, os caranguejos são comercializados vivos, amarrados um ao outro em “cordas”, pendurados numa vara que é apoiada nas costas do vendedor. O preço de cada “corda” de caranguejo custa em média de 5 a 10 reais, bem mais barato que um rabo de lagosta vendido no Zaffari de Porto Alegre por 50 reais. Enfim, com bastante dificuldade, minhas tias conseguiram para mim uma corda com 12 caranguejos que vieram diretamente de Bayeux-PB.

 
Caranguejos prontos para o abate e para a limpeza: dá pena nessa hora, mas fazer o que né...

 
Caranguejos limpos com perfeição: agora é só jogar na panela 

Ao chegar em casa, primeira coisa a se fazer é matar os caranguejos. Parece fácil, mas é nessa hora que muita gente se desespera... como matar o bicho? 1) Jogando-os na água fervente = uma morte horrível, cujo choque faz com que os caranguejos soltem as suas patas (indesejável); 2) Jogando-os no freezer por alguns minutos = uma morte indolor; 3) Facada = morte rápida. Meu pai os mata com a faca. Ao apontar a faca pro caranguejo ele a segura, meu pai o gira com as patas para cima e desfere uma facada no centro do tórax. O caranguejo morre em instantes. Depois, começa o processo de limpeza com água corrente e escovinha para tirar a lama do mangue. A parte de baixo, anexada ao tórax, contém os intestinos do caranguejo e deve ser retirada (é só deslocar e puxar). A segunda limpeza inclui a raspagem dos pêlos das patas do caranguejo com o auxílio de uma faca (a maioria das pessoas e restaurantes ignora essa parte e não tira os pêlos). Após uma segunda lavagem, os caranguejos podem ser cozidos juntamente com tomate, cebola e pimentão picados. Pode ser adicionado o leite de côco natural, que torna o caldo muito mais gostoso.


Nos restaurantes, o caranguejo é servido acompanhado de talheres e alicates especiais. Frescura!!! Para comer um bom caranguejo tudo o que você precisa são mãos firmes, dentes fortes, muita calma nessa hora e muita hora nessa calma. Tenho uma tia que não come caranguejo, ela o “masca”... isso mesmo, ela masca as patas do bicho, suga, e cospe fora o “bagaço”, sem engolir nada. Eu desenvolvi um método peculiar de comer caranguejo o qual considero eficiente por aproveitar ao máximo a iguaria. A descrição é a seguinte:


1 – Retire o caranguejo da panela e coloque-o no prato com as patas para cima para não escorrer o caldo de seu interior (detalhes no item 8). Comece pelas patas menores (que têm menos carne) até chegar às maiores.

2 – Aproveite cada pedaço separadamente.


3 – Morda e retire as extremidades do pedaço, para que ele não fique fechado, nem numa ponta, nem noutra.

4 – Sugue a carne.

5 – A retirada das extremidades faz com que a carne saia completamente ao sugar, deixando o pedaço oco.



6 – As patolas têm alguns detalhes. Após sugar a carne das partes anteriores da patola, retire a pinça móvel e coma a carne que vem colada nela. Com muito cuidado, quebre com seus dentes molares a parte maior da pinça. Não precisa usar tanta força, apenas o suficiente para rachá-la. Abra e coma a carne. Use seu dedo mindinho para acessar a carne aderida no interior da casca.


7 – O cefalotórax ou “cabeça” comumente dita possui caldo e partes comestíveis que concentram o sabor dos temperos adicionados ao cozimento. Ela pode ser consumida de duas maneiras: bebendo o caldo diretamente, pelo buraquinho do cefalotórax; ou separando a cabeça e o tórax, para depois beber o caldo da cabeça. Da segunda maneira o caldo bebido é mais consistente e gostoso.


8 – Se você optar por separar a cabeça do tórax, pode consumir o tórax primeiro. O tórax pode ser separado novamente em duas partes, que possuem na parte de cima pequenas brânquias (acho que são brânquias) com consistência fibrosa sem sabor (pode comer sem medo). A parte interna do tórax possui paredes de quitina (cascas) contendo carne em seu interior. Tem gente que “masca” essa parte e engole. Eu a quebro em várias partes menores e acesso a carne com os dentes e a língua.


9 – A cabeça – última parte a ser consumida. Simplesmente beba o caldo de seu interior (é uma delícia). Algumas partes do interior da cabeça ficam aderidas, você pode acessá-las diretamente com os seus dedos. Tem uma parte bem no centro da cabeça que até pode ser consumida, porém ao ser “estourada” tem um sabor um pouquinho amargo, mas nada desagradável. O ideal é que se retire essa parte interna e consuma todo o resto que tem um sabor sensacional.

10 – O próximo! É impossível comer um só. Caranguejo é bom e faz bem, aprecie sem moderação.


Bom apetite!

Agradeço a Cazuza e Kika pelas fotos e paciência enquanto eu curtia essa degustação, e às tias por terem conseguido os caranguejos apesar da dificuldade em se encontrar caranguejos atualmente.






Quer conhecer um programa de proteção ao caranguejo? Acesse esse site: http://www.puca.org.br/

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Computadores da Minha Vida




Andei pensando esses dias sobre algo que é comum a maioria de nós: o tempo em que passamos na frente de um computador. Hoje em dia é comum que as pessoas passem mais de 3 horas diárias em frente a essa máquina, mas antigamente (década de 80 e 90) isso ainda era uma novidade. Atualmente, o computador representa uma extensão do ser humano no mundo em que vivemos, e por que não dizer um encontro consigo mesmo, uma vez que somos o que sabemos, o que queremos e o que sonhamos, e tudo isso imprimimos no nosso relacionamento com o computador. Bem, deixando a filosofia um pouco de lado, o objetivo desse tópíco é relembrar com saudosismo a alvorada de uma era que me marcou, a era do computador.

Era uma vez em 1990, na cidade de Porto Alegre um guri magro e cabeçudo, louco por videogames (eu). Naquele ano passou um especial do Globo Repórter sobre os videogames, que começavam a virar uma mania nacional, e logo após esse programa meu pai me prometeu um Phantom System (um Nintendo 8 bits genérico, fabricado pela Gradiente). Estudei feito um alucinado, porém no final do ano meu pai não pôde me dar o tão sonhado videogame, pois havia acabado de adquirir um computador. Naquela época computadores ainda eram raros, só existiam em bancos e empresas. Para vocês terem idéia, no Departamento de Solos da UFRGS só existiam dois computadores, um na secretaria e outro para uso geral dos estudantes e professores (que tinham prioridade). Como o acesso aos computadores era algo extremamente restrito, muitos estudantes de doutorado compravam o seu próprio computador, a maioria clandestinamente (Paraguai, óbvio).

Naquela época imperava no Brasil a Lei de Informática, uma lei extremamente imbecil, que restringia a entrada de hardware importado (CPUs, monitores e outro periféricos) visando estimular o crescimento da indústria nacional, mas que ao mesmo tempo prejudicava quem dependia de computadores para trabalhar, ou seja, os consumidores. Essa cagada histórica resultou num enorme atraso para empresas, universidades, e outras entidades, quando teria sido mais interessante a criação e o desenvolvimento nacional de softwares adaptados para hardwares já existentes. Assim, as opções eram as seguintes: 1 – comprar um computador nacional como o Itautec, caríssimo e ineficiente; 2 – importar um computador dos E.U.A., caríssimo e super-eficiente; 3 – comprar um computador do Paraguai, com excelente custo-benefício, mas totalmente clandestino. Os Itautec da vida eram até atraentes, porém bastante inferiores aos computadores da época. Computadores potentes, importados dentro da lei, eram algo comum apenas para empresários ou gente podre de rica. Por sua vez, os computadores ilegais não pagavam impostos, assim eram acessíveis à pessoas comuns, como por exemplo, estudantes de pós-graduação.

O computador de meu pai era um PC AT 286 com 42 MB de HD e monitor CGA (preto e branco). Os monitores coloridos (trambolhos) eram caríssimos, coisa de 500 dólares na época, sendo que a maioria era importado (e tome taxa em quem se atrevesse a importar). Kit multimídia com CD e som digital ainda era novidade no Japão, por isso o som de nosso computador era o beeper, quase o mesmo que uma cigarra tentando imitar o som das coisas (horrível e saudoso). Não tínhamos mouse, algo também raro na época. Mesmo com todas essas limitações, era possível escrever textos (programa Wordperfect), calcular dados em planilhas (programa 1 2 3), desenhar (programa Havard Graphics) e imprimir textos e baners, pois tínhamos uma impressora Epson matricial que continua funcional até hoje. O engraçado é que a impressora fazia um barulho ensurdecedor e sempre que meu pai precisava imprimir algo ele fechava a porta do quarto e pedia para que cantássemos bem alto para que os vizinhos não escutassem a impressora trabalhando, pois poderiam denunciar à Receita que podia confiscar o computador de meu pai, prejudicando o seu doutorado. Resumindo, foram tempos engraçados.

Meu papel naquela época era ser o hacker, desbravador de comandos do DOS, que era o sistema operacional existente, aquela tela preta com um cursor piscando. Destemido, eu testava tudo pra ver até onde o computador agüentava. Não é preciso dizer que não demorou até eu tentar transformar o computador de meu pai num verdadeiro fliperama. Sanando a falta de meu videogame, meu pai conseguiu com colegas que viajaram ao exterior diversos jogos para PC, como Pac-man, Digger, Alley Cat, Tetris, Blockout, F-16 Combat Pilot, e muitos outros. Um dos que mais joguei foi o Grand Prix Championship Circuit, jogo de fórmula 1 sensacional que permitia pilotar 3 carros diferentes em campeonatos com os principais circuitos da fórmula 1 verdadeira, inclusive o GP Brasil. Eu era fera e sempre me sagrava campeão em todas as pistas.



Interface do sistema DOS: o usuário precisava ser quase um hacker pra usar um computador.



Grand Prix: muitas vitórias. Esse aí tá colorido, o meu era em preto e branco mesmo.

Outro jogo que fissurei foi Robocop. O jogo em si tinha gráficos horríveis e era extremamente difícil. No entanto a maior dificuldade era pra fazer o computador rodar o jogo. Como a memória do HD do computador era pequena (42 MB) eu tinha que usar disquetes. Nosso computador permitia uso de dois tipos: disquetinho (3½ polegadas e 1,44 MB de memória) e disquetão (5¼ polegadas e 0,36 MB de memória). Robocop era um jogo que cabia num disquetinho, porém como esses eram caros e restritos a meu pai. Assim, quando eu terminava uma parte do jogo o computador dizia “insira disco A”, “insira disco B” “C, D”... chegava uma hora que eu me atrapalhava todo com tanto troca-troca de disquetes (foda!). Dou risada quando me lembro de meu pai falando sobre a capacidade dos disquetes: “...com esse disquete você pode escrever mais de 100 páginas!!”, e eu dizia “...oh, que maravilha, né?”. Eu e cada uma de minhas irmãs tínhamos nosso próprio disquete, uma autonomia digital bem rudimentar. Precisa dizer que eu usava os disquetes delas também?


Disquetes de 5¼ e 3½ polegadas: quem não pegou essa época não sabe o que é sofrer 

No recreio da escola funcionava a máfia dos jogos piratas, uma das vantagens do computador em relação aos videogames. Se você tinha um jogo podia fazer uma cópia dele em disquete e trocar com os colegas por outros jogos mais legais e interessantes. O resultado: vírus, muitos vírus, e meu pai correndo com o computador para a manutenção antes que sua tese fosse prejudicada. Com os vírus controlados pelo Norton (já existia), voltei a utilizar o computador com mais receio. Foi nessa época que Luciano, um colega de meu pai mandou para mim um jogo imortal: Prince of Persia.


Prince of Persia: tão revolucionário que parecia um filme.

Prince of Persia foi um dos jogos mais revolucionários de todos os tempos, tanto pelo enredo que se passava na Pérsia antiga, como também pelos gráficos extremamente realistas que mais lembravam um filme, e pela música climática e efeitos sonoros realistas. Era diferente de tudo que eu já tinha jogado e até hoje me divirto jogando. O mais incrível é que o jogo inteiro cabia num disquete pequeno, sem dúvida o melhor aproveitamento de um disquete na história da computação. Esse jogo merece uma postagem especial, por isso, seguimos adiante...

Já no final do meu período em Porto Alegre, o segredo do computador foi revelado aos meus amigos do prédio (nossa, nunca tinha guardado um segredo por tanto tempo assim!). Um dos meus amigos, Felipe, havia ganhado um MSX, que era ligado na TV e aceitava tanto cartuchos como disquetes. Pra mim aquilo era uma revolução, pois o MSX embora fosse mais antigo que o PC, era mais versátil e claro, tinha muito mais jogos. O problema é que viciei no computador alheio... ae era aquele lance: "7:00 da manhã", "Ding-dong", "Bom dia Tia, o Felipe está?", "Ele está dormindo...", "Ótimo, vou acordá-lo agora mesmo"... e enquanto ele escovava os dentes e tomava seu café eu ia ligando o MSX e instalando os jogos. Passávamos o dia inteiro jogando, principalmente The Goonies, jogo que pouco ou nada tinha a ver com o filme do Spielberg.


MSX: tempos em que "morei" na casa de um amigo

Quando voltei pra Areia-PB em 1993, pouquíssimas pessoas tinham computador e menos ainda tinham jogos em seus computadores. Apenas quando reencontrei com Alamo, amigo de infância de retorno da Espanha, foi que tive acesso a jogos que conhecia apenas por revistas especializadas. O computador dele era um MITAC 386 com monitor SVGA (colorido) e 66 MHz (o meu era 20 MHz com "turbo"), uma máquina a frente da época e que depois foi vendida à uma mortuária (quê?). Dentre os tesouros trazidos da Espanha por Alamo se destacavam: Golden Axe (igual ao do Mega Drive), Turtles Arcade Game (o jogo de fliperama das tartarugas ninja), Simpsons (igual ao de fliperama), Indiana Jones e a Última Cruzada (adventure da Lucas Arts), Maniac Mansion (pai dos adventures da Lucas Arts) e STUNTS (jogo de corrida em 3D). Cada jogo teve sua particularidade especial, porém o mais incrível é que eram originais, com encartes coloridos e alguns traduzidos para o espanhol. Essa última característica foi um pouco frustante pra mim, pois eu havia me acostumado com jogos em inglês (sempre com dicionário ao lado do PC).



Maniac Mansion em espanhol: meus games viraram juegos.

Com o tempo o computador de casa foi ficando defasado, incapaz de rodar o Street Fighter 2 que eu conseguira em primeira mão com Silvino, amigo areiense mais fissurado em computadores naquela época. Meus colegas de escola Damy e Tassiano já desfrutavam do Windows 3.1, enquanto eu me prendia ao ultrapassado DOS e seus comandos mirabolantes. Finalmente em 1996 meu pai substituiu nosso computador por um AMD K6 e vieram tempos de monitor colorido, Windows 95, 98, dias inteiros jogando Age of Empires. Naquele mesmo ano meu pai instalou nosso antigo computador 286 no laboratório da faculdade para gerar planilhas, formatar disquetes e outras coisas banais. Em pouco tempo ele foi encostado e nunca mais foi usado. Nesses dias me bateu uma saudade daqueles tempos antigos e uma dúvida ficou martelando... será que ele ainda roda Prince of Persia?



Quer entender resumidamente a cronologia dos computadores? Visite esse site: http://www.netangola.com/CCA/pages/marks/computador/parte4.htm

Quer entender sobre a Lei de Informática? Leia na íntegra esse artigo científico: http://www.scielo.br/pdf/gp/v11n2/a04v11n2.pdf

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Avatar



Nesse último final de semana assisti com minha esposa ao filme Avatar, do diretor James Cameron, mesmo de “Titanic”, “Exterminador 2” e “Aliens, o Resgate”. Eu andei meio desligado com esses novos lançamentos e confesso que só ouvira falar do Avatar recentemente. Confesso que ao assistir ao trailer no Youtube eu fiquei um pouco desconfiado, pois o filme envolve atores reais com atores CG (computer graphics), será que ia dar certo?



A ganância humana: quem poderá detê-la?

Ansiosos, pegamos uma sessão dublada devido ao horário inconveniente da versão legendada. O legal foi que pegamos a versão 3D, na qual usamos aqueles óculos especiais da IMax. Pagamos o preço salgado de 18 reais por cada meia-entrada (estudante), que aqui em Porto Alegre nunca é “meia” e sim um descontinho de 3 reais mais ou menos (máfia). Apesar disso, a experiência foi fantástica em todos os sentidos. Foi o primeiro filme que assisti em 3D e é incrível do que a tecnologia IMax é capaz de fazer... teve uma cena que o ator joga uma granada na tela e a maioria da platéia tentou desviar... cara, muito engraçado, teve gente que botou os braços pra proteger o rosto. Noutra cena, os mergulhos aéreos dos na'vi à bordo de seus banshees chega a ser vertiginosa. A imersão no filme é muito maior, você esquece o mundo real (isso é bom!). Chato é ter que devolver os óculos 3D no final da sessão... uma pena, pois daria pra “bossar” no melhor estilo “De Volta Para o Futuro” (the 80’s rules!).


 Filmes em 3D: experiência fantástica! Mas eu me pergunto...
o que que essa tia tava fazendo sem os seus óculos 3D?

Sobre o filme, não vou contar tudo como fiz no post Robocop, pra não perder a graça. A história é tão simples quanto profunda: no ano de 2200 e alguma coisa os humanos descobrem no paradisíaco planeta Pandora um mineral com propriedades raríssimas, cujo quilo vale bilhões de dólares. No entanto, sob a jazida existe o lar de uma tribo de alienígenas chamados “na'vi”, que vivem em perfeita harmonia com o seu meio ambiente. Para atuar e tentar negociar seus interesses junto à comunidade na'vi, os humanos desenvolveram uma tecnologia revolucionária, que utiliza clones (conhecidos como “avatares”) feitos com mistura de DNA na'vi e humano, que são controlados remotamente por cientistas e um soldado paraplégico chamado Jake Sully (o mocinho). Os humanos estão determinados e um conflito de grande proporção se mostra inevitável. Nesse meio termo, Jake Sully controlando seu avatar se envolve com a cultura na'vi e a personalidade forte de Neytiri, filha dos chefes da tribo. Bom, o resto vocês imaginem.



Jake Sully e Neytiri: amantes alienígenas unidos por um propósito

Várias questões pertinentes são levantadas durante o filme. A primeira é sobre ecologia. No filme, vemos um ambiente intocado, riquíssimo em biodiversidade e beleza natural. As cores dos animais, plantas e até dos riachos é altamente psicodélica, belíssima, parece até o paraíso tal como deveria. Os humanos representam a ameaça, a destruição do imaculado com o propósito da apropriação de riquezas. Como sempre, existe uma minoria que pensa diferente, tentando aprender sobre o ecossistema e valorizá-lo pelo que é, pela sua sustentabilidade e como pode prover benefícios à todos. Como agrônomo, sei da minha responsabilidade em buscar indicadores que atestem a qualidade do solo e a sustentabilidade de sua exploração, por isso, acho perfeitamente viável a recuperação de áreas degradadas e a otimização das áreas já disponíveis para o cultivo ao invés da expansão da fronteira agrícola para a Amazônia, ambição da bancada ruralista do governo. Infelizmente, boa parte dos agrônomos é formada como “tratores e colheitadeiras” (máquinas irracionais) para essa nova “frente de trabalho”. Os alternativos, marxistas de discurso, em parte lesionados pelos efeitos da maconha não tem capacidade para peitar os agrônomos de terno e gravata (agribusiness motherfuckers!). E nós? Pesquisadores ávidos por publicações periódicas, sem comprometimento efetivo com o meio-ambiente. Qual será nossa parcela de culpa?

A questão étnica é bem trabalhada no filme. Os humanos simplesmente querem arrancar à força o que eles pensam possuir. Assim, ignoram e menosprezam a civilização na'vi, seus costumes, suas tradições, sua religião, seu conhecimento e valores individuais. Não é isso que os E.U.A. fazem com as outras nações? Não foi isso que os europeus fizeram à nossa terra e nossos índios? Há momentos em que o filme nos faz chorar, de pena ou do mais puro ódio. O pior é saber que isso é atual e ocorre nas nações invadidas pelos E.U.A., justificado pela propaganda mascarada da liberdade. Penso por alguns instantes... quem (além de mim) estará preparado quando eles invadirem a Amazônia? Já esqueceram que há poucos meses atrás eles montaram uma base militar na Amazônia peruana? Nada contra os americanos, mas sua forma de governar não serve para o mundo. Ainda sobre a questão étnica, somos todos índios e abominamos nossos índios. Por quê?

Avatar vai muito além de um “Dança com Lobos”, mostra que a fé e a determinação são valores que levam ao sucesso. O caminho pode ser tortuoso e cheio de adversidades, tristezas, mas todas superáveis se tivermos esses valores.


Os rebeldes: militantes da causa na'vi
Que bom matar a saudade da Sirgouney Weaver!


Que assistir ao trailer? Simbora no http://www.youtube.com/watch?v=XgENNNOOom4

Quer assistir ao filme? Aconselho a ir ao cinema, pois esse vale muito a pena, principalmente em 3D. É um bom filme para ter em DVD. Até o presente momento não há versões decentes para serem baixadas na internet.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A importância de se ter um hobby

Às vezes eu estranho as pessoas. Muitas passam suas vidas se torturando em busca de dinheiro, status e se esquecem de gozar a vida e as coisas boas do mundo. Como é interessante conversar com pessoas que são especialistas em áreas ou coisas que a gente desconhece, pois é sempre gratificante aprender e acumular experiências diferentes.

Quanto vive um ser humano? 80? 100 anos? Muitos dizem “é muito pouco, um sopro, quase não dá tempo pra fazer nada”, mas se isso tivesse fundamento, por que é que existem tantos passatempos? Na verdade acho o termo “hobby” mais legal, pois “passatempo” dá uma idéia de algo sem valor, que é feito apenas para “gastar” o tempo que a pessoa dispõe. Da mesma maneira o termo “mania” dá idéia de compulsão.
Existe uma infinidade de hobbies. Há hobbies passivos e ativos. Por exemplo, ser torcedor fanático do Flamengo (não gosto de futebol, a não ser na Copa do Mundo) é um hobby tremendamente passivo, pois você atua como espectador, não interfere diretamente no desempenho do time e sua satisfação está sempre à mercê da sorte, afinal de contas o time pode lhe trazer tanto alegria como tristeza. Da mesma forma, colecionar figurinhas é um hobby que depende muito da sorte, pois completar um álbum é uma tarefa gratificante, porém encontrar a última figurinha exige um esforço, ou sorte, danados. Lembro que o único álbum de figurinhas que completei foi o “Dinossauros” do chocolate Surpresa, o qual recebi em casa mediante uma carta que enviei à Nestlé. Eu comia chocolate Surpresa de manhã, de tarde e de noite e depois me acabava no banheiro, tudo para conseguir a última figurinha (do espinossauro) e completar o álbum. Por ironia, encontrei a figurinha sendo mastigada por um amigo de infância, dei-lhe uma tapa na boca, peguei a figurinha e o contemplei com um chocolate Supresa novinho, afinal aquela figurinha valia muito mais.


Álbum de figurinhas do chocolate Supresa: nunca comi tanto chocolate na vida

Os hobbies passivos também podem virar fetiches, como no caso das coleções de coisas. Essas, muitas vezes, demandam disposição e bastante dinheiro. Não estou falando de coleções de carros de verdade, mas de coisas pequenas, mais baratas, como brinquedos, revistas, CDs, DVDs, etc. O mais comum são as coleções de revistas, CDs e DVDs. Nos anos 80 era de praxe ter em casa ao menos uma coleção de vinis, não importa se fosse da Xuxa ou do Balão Mágico, o importante era ter inclusive aquele disco ruim pra caramba. Na adolescência iniciei a coleção do Pink Floyd, que foi interrompida bruscamente quando escutei o Nirvana e em seguida Led Zeppelin, banda que uniu o som virtuoso com peso, elementos musicais que considero importantes. Isso é assunto pra outro post... Pois bem, um amigo meu também iniciou a coleção de CDs do Pink Floyd pouco tempo depois e completou com mais ou menos uns 30 discos, incluindo coletâneas, ao-vivos e tudo mais. Admiro o esforço dele, já que alguns discos são bem raros e esgotados. Infelizmente quando questionado sobre algumas músicas de discos obscuros como o Ummagumma, ele pouco ou nada sabia. Então, seria ou não um caso clássico de fetiche? Se sim ou não, não tenho nada a ver com isso. Completei minha coleção de CDs do Led Zeppelin no ano passado também por fetiche, afinal há anos eu tinha a versão pirata do The Song Remains The Same e já havia escutado e assistido esse show em VHS e DVD mais de 100 vezes (todos os dias antes de ir pra aula em 1998, quando fazia o terceiro científico). Ainda me faltam os vinis do The Song Remains The Same e do Physical Graffitti, os quais talvez eu nunca escutarei (som de vinil melhor que CD é lenda, charlatanice).

Box com a coleção do Led Zeppelin: comprei os meus
um-a-um, foi bem mais divertido!

O hobby ativo é aquele no qual o indivíduo participa diretamente, no qual sua ações influenciam no resultado final do processo (eu e minhas definições...). Esses hobbies geralmente demandam tempo e dinheiro, mas dedicação e empenho são parte da diversão. Um exemplo desses é o aeromodelismo, tenho um professor que é aficionado por construir e testar aeromodelos, e segundo ele “você tem a sensação de estar lá pilotando aquela máquina maravilhosa”. Lembro que quando eu passeava com meus pais perto da Usina do Gasômetro em Porto Alegre, à beira do Rio Guaíba em Porto Alegre havia áreas livres para a prática desse hobby, porém eu mal sabia que alguns aviõezinhos daqueles chegavam a custar o preço de um carro usado. É um hobby muito restrito.
O foguetismo é outro hobby que acho muito legal, pois geralmente envolve uma equipe de nerds, dedicados a estudar os fundamentos da física e tecnologia dos propulsores e munidos desse conhecimento constroem foguetes com o simples objetivo de voar o mais alto e estável possível. Muitas vezes esses foguetes amadores possuem câmeras que filmam toda a “viagem” e pára-quedas para recuperação do foguete. Vários times de fogueteiros surgem em colégios, incentivados por professores de física que fazem da disciplina um sonho (não tive essa oportunidade). Em 1995 eu até tentei ser fogueteiro, porém meu pai confiscou o tubo de pólvora que eu havia comprado para usar no meu primeiro foguete. Na teimosia (e inocência), construí um foguete movido a querosene, impulsionada por uma mola dentro do corpo (tubo de Cebion). Houston, eu estava realmente pronto! Risquei o fósforo, acendi a querosene que vasava do foguete, corri e de longe observei o foguete incendiando e derretendo lentamente (poxa, nem explosão teve). Acabei com a festa com um balde de água e nunca mais construí outro foguete (ô tristeza).


Foguetismo: hobby superlegal, desde que tomados
os devidos cuidados
Existem também hobbies extremamente especializados, como é o caso da música e do radioamadorismo. Em 1997, montei com minha irmã e alguns amigos uma banda de rock chamada Venera (homenagem à nave soviética que visitou Vênus em 1973). Cheguei a tocar guitarra razoavelmente (solava Stairway to Heaven, me sentindo o Jimmy Page da Paraíba) e também tínhamos músicas próprias. Infelizmente, a pós-graduação enterrou meus delírios de “estrela do rock". Bom, mas o legal de um hobby como a música é que você precisa se dedicar a seu instrumento, ter intimidade com ele e conhecer detalhes de sua manutenção e funcionamento para ter uma performance ideal. O retorno máximo de tocar numa banda é sem dúvida o aplauso, o reconhecimento. Sobre o radioamadorismo, eu não tenho o mínimo conhecimento, apenas tenho um amigo que me conta comigo suas experiências com esse hobby que é uma nerdice pura. Pra começar, o sujeito deve entender sobre ondas e como captá-las, deve saber montar ou adaptar os próprios aparelhos, instalar antenas (muitas delas enormes), ter permissão oficial para usar determinados canais de rádio e depois fazer seus contatos por rádio, montar uma equipe e fazer experiências, como por exemplo, contatos distantes (existem competições entre equipes), enviar fotos ou arquivos através de sistemas de rádio (sensacional), etc. Ultimamente esse meu amigo tem desenvolvido um “satélite” aéreo que subirá a bordo de um balão de hélio fotografando e enviando imagens por rádio. Ironicamente, em 1996, com 16 anos eu passava boa parte de meu tempo bolando e desenhando projetos semelhantes, porém sem base científica, nem recursos financeiros para torná-los realidade.


Meados de 1997: primeiro show da banda
Venera (sim, o cabeludo sou eu mesmo)
Com o advento da internet ficou muito mais fácil ter acesso a hobbies, principalmente devido aos fóruns específicos espalhados em diversos sites, com destque para os do Orkut. Assim, pode-se trocar experiências sobre os mais diversos temas, resolver problemas e ajudar a quem precisa. Pra quem tem vontade de praticar um hobby mas não quer gastar muito com isso existem várias alternativas. Um hobby barato e divertido é a leitura de livros. Existem sebos difundidos em tudo quanto é lugar, e bons livros custando menos de 20 reais. O livro, através da introspecção, permite uma experiência única, pois mexe com o poder imaginativo individual e isso é fantástico. Outro hobby bacana e também barato é a fotografia, que apesar do custo inicial com a aquisição de câmeras digitais ou analógicas, permite momentos de satisfação e ainda o hobbista pode expor seus trabalhos em diversos sites, como por exemplo o Flickr. Enfim, não existe hobby que não acrescente algo à pessoa que o pratica. A informação e a experiência, por mais simples ou frívolas que pareçam não deixam de ser uma manifestação da cultura, e essa é uma característica inerente ao ser humano.

Eae? Quais são seus hobbies? O que você gosta de fazer?

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Toca no meu som... (out a dez de 2009)




Meu período em São Carlos também foi muito rico musicalmente. Minha colega de sala e blogueira Camila, que compartilha de alguns de meus gostos musicais, me ajudou a desenterrar verdadeiras pérolas dos anos 80 e 90. Tá certo que essas décadas tiveram muitas músicas e bandas ruins, daquelas que fazem a gente sentir vergonha alheia, porém boa parte garante momentos de nostalgia recompensadores.

Música boa é pra sempre, né verdade?

Com vocês... músicas que escutei em outubro, novembro e dezembro de 2009 (tem muito mais, comentarei apenas às antigonas). Abaixo de cada uma tem o link correspondente do youtube pra dar aquela conferida.

Build (The Housemartins) – melô do “papel”, essa é pra Camila
Rocketman (Elton John) – indicada por Sara, sintetiza meu momento em São Carlos
The Sun always shines on T.V. (A-ha) – essa é pra dançar na pista
Overkill (Men at Work) – que saudade dos solos de sax desses caras
For your babies (Simply Red) – balada pra relaxar
Iris (Goo Goo Dolls) – mais conhecida como tema do filme Cidade dos Anjos
I won’t let you down (Ph.D.) – nossa, do fundo do baú da vovozinha
Enjoy the Silence (Depeche Mode) – meio esquisita, mas fez sucesso
Sacrifice (Elton John) – irritou de tanto que tocava no rádio no início de 90
Rebel in me (Jimmy Clif) – altas festinhas pré-adolescentes
Sorry (Tracy Chapman) – essa escutei muito em fita cassete
Hello (Lionel Ritchie) – sucesso do “bigodudo”
Both Sides Now (Joni Mitchell) – essa é de 1969, mas tá valendo, afinal é minha cantora favorita

E aí? Alguém encontrou mais alguma pérola perdida dos anos 80 e 90?

Quer baixar essas músicas em mp3? Acesse http://search.4shared.com/network/search.jsp e tenha bons momentos de nostalgia.

Obs.: sou contra a pirataria, porém, boa parte dessas músicas é raríssima de se encontrar em outro lugar que não seja a internet. Esta é a melhor maneira de prestigiar estes artistas e, caso haja interesse, adquirir CDs ou outros produtos dos mesmos, disponíveis eventualmente no mercado.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Robocop




Hoje vou falar de meu filme favorito e também meu herói predileto: ROBOCOP.
Em meados de 1989, lá estava eu, um guri fanático por Changeman e Jaspion, dois seriados japoneses exibidos na extinta TV Manchete. Como se não bastasse assistir na TV diariamente eu ainda implorava para meu pai alugar VHS dos Changeman, sempre que íamos à locadora e numa certa vez ele me convenceu (obrigou) a alugar o Robocop, alegando que era muito melhor que Changeman. Foi assim que começou uma verdadeira mania, pois eu alugava o filme diariamente chegando ao ponto do dono da locadora propor a meu pai fazer uma cópia pirata, pois disse que meu pai iria gastar menos e outras pessoas poderiam locar o filme. Dentro desses 20 anos (1989-2009) já assisti ao filme mais de 90 vezes. Eu não estou brincando.

Robocop foi lançado em 1987, dirigido por Paul Verhoeven (o mesmo diretor de “O Vingador do Futuro”, “Instinto Selvagem” e “Tropas Estelares”) e estrelado por Peter Weller, Nancy Allen, Ronny Cox, entre outros atores. O filme tem elementos cyberpunk e noir, ou seja, mostra um futuro próximo com tecnologia avançada, porém com uma sociedade corrupta e degenerada. É nesse meio em que o policial Alex Murphy é transferido para o Departamento de Polícia de Detroit, prestes a entrar em greve devido a salários baixos e assassinatos em série de policiais. Paralelamente, a OCP, uma poderosa e inescrupulosa corporação planeja construir sobre Detroit uma nova cidade chamada Delta City, mas precisa resolver o problema da violência urbana e as reivindicações policiais. Dentro da corporação destacam-se o presidente conhecido como “Velho”, o vice Dick Jones e o executivo jovem e oportunista Bob Morton. Dick Jones planeja impressionar o Velho e demais executivos com seu robô ED-209, desenvolvido para substituir os policiais de carne-e-osso (dura crítica à automação e ao desemprego), porém algo sai errado e o robô entra em pane, matando um executivo (essa cena é brutal, o cara praticamente vira um queijo suíço de tanto tiro). Se aproveitando do erro de Dick Jones, Bob Morton sugere um plano de apoio chamado “Robocop” e recebe carta branca do Velho.

Murphy e Lewis: parceiros no combate ao crime.



O Velho, Dick Jones e Bob Morton: escândalos e corrupção
na corporação que criou o Robocop

Murphy e Lewis (sua parceira) perseguem a gangue do famigerado Clarence Boddicker, um psicopata, estrupador, traficante, assassino de policiais, líder do crime em Detroit e cúmplice do Dick Jones vice-presidente da OCP (ou seja, o cara é um anjinho a serviço do mau). A perseguição termina no esconderijo dos bandidos, uma fábrica abandonada (clichê dos filmes do Robocop). No senso do dever Murphy e Lewis decidem fazer a abordagem e se dão mal. Lewis sofre uma queda e fica inconsciente, enquanto Murphy é cercado pelos bandidos. Essa parte é a mais sádica do filme, o Clarence Boddicker brinca enquanto violenta Murphy. Com um tiro ele estoura a mão do Murphy e pede pra os comparsas “darem uma mão ao rapaz” (nossa... essa cena é muito forte) e em seguida os bandidos fuzilam Murphy com armas pesadas, arrancando fora seu braço e deixando seu corpo completamente ensangüentado, enquanto brincam “está doendo?”. Agonizando, Murphy leva o tiro final na cabeça e em seguida os bandidos fogem. A cena seguinte é tensa, mostrando a luta dos para-médicos para tentar salvar a vida de Murphy, que inconsciente, relembra cenas de sua vida até seus últimos momentos.



A morte brutal de Murphy: cena mais violenta do cinema

Murphy morre e renasce como um ciborgue (meio homem-meio máquina) em desenvolvimento. Durante essas cenas, a perspectiva é a do personagem assistindo as coisas acontecerem, porém tudo envolto num grande mistério. Ainda nesse clima, o Robocop é levado ao Departamento de Polícia de Detroit, onde fica montada a base de operações da OCP. Ele é apresentado aos executivos da OCP e submetido a testes prévios, um deles sendo enunciar suas diretivas principais: 1 – servir ao público; 2 – proteger o inocente; 3 – impor a Lei; e 4 – diretiva secreta.


Murphy renasce como Robocop pelas mãos
de Bob Morton e sua equipe


Teste de tiro ao alvo: nota 10!

Robocop é posto à prova e faz diversas abordagens a criminosos. Primeiro, acaba com a raça de um ladrão que ameaçava um casal de velhinhos num supermercado. Segundo, prende dois estrupadores em flagrante (ele mira entre as pernas da mulher refém e acerta o saco do cara... uma cena hilária e gratificante para as pessoas de bem). Terceiro ele salva o prefeito de Detroit, refém de um ex-funcionário surtado e perigoso. Com isso, Robocop ganha notoriedade e aprovação pública, enquanto Bob Morton (executivo responsável por ele) torna-se vice-presidente da OCP, enfurecendo Dick Jones.
Numa certa noite, enquanto Robocop estava em repouso e manutenção no Centro de Operações do Departamento de Polícia, tem um pesadelo com os bandidos que o mataram e em seguida foge enfurecido e topa com Lewis (sua antiga parceira) no corredor. Ela já desconfiada há bastante tempo, faz-lhe a pergunta “Murphy, é você?”. Ele retruca, finge que ignora e parte para o combate ao crime. Por coincidência Robocop topa com Emil (da gangue de Clarence) que estava assaltando um posto de gasolina. Ao receber a voz de prisão (“Morto ou vivo você vem comigo”) Emil o reconhece como o policial que eles haviam matado (“Você morreu, nós matamos você!”). Na troca de tiros o posto de gasolina explode, Robocop sai das chamas, acerta a moto de Emil e o interroga “quem é você?”.



"Morto ou vivo você vem comigo"


Emil apavorado: "Você está morto, nós te matamos."

Em seguida, Robocop entra no Setor de Inteligência da Polícia e com sua agulha retrátil (uma espécie de interface) acessa dados os computadores da polícia obtendo informações sobre Emil e a gangue de Clarence. Na ficha de Clarence ele reconhece o nome Alex Murphy e vê sua própria foto com uma tarja “falecido”. Levantando dados de Murphy ele chega a casa onde viveu, já desocupada e à venda. Essa cena é muito dramática, mostrando lapsos de memória de seu filho e sua esposa. É aí que ele percebe realmente quem foi, e a partir daí é tomado por um único sentimento: vingança!

Cara a cara com o próprio assassino

Ele prende Leon, outro membro da gangue de Clarence e fica a um passo de pegar o chefão. No mesmo momento Clarence Boddicker invade a casa de Bob Morton (vice-presidente da corporação e criador do Robocop), atira nas pernas dele, entrega um vídeo a mando de Dick Jones, onde o próprio justifica sua vingança. Com a bomba deixada por Clarence a casa vai pelos ares e a cena seguinte mostra Robocop invadindo uma grande refinaria de cocaína, topando de frente com dezenas de bandidos fortemente armados. Ele mata um a um, até chegar ao Clarence Boddicker, que é jogado sadicamente contra vidraças, implorando pela vida e ao mesmo tempo denunciando Dick Jones, seu superior e “chefão” do crime em Detroit.


Dick Jones e seu guarda-costas: osso duro de roer

Apesar da vingança, Robocop poupa a vida de Clarence e parte em busca de Dick Jones, que já o esperava no arranha-céu da corporação. Robocop tenta prendê-lo, mas logo a diretiva 4 entra em cena – como produto da empresa, ele não pode se voltar contra membros da empresa, sob a pena de auto-destruição. Ele entra em pane, mas consegue gravar as palavras de Dick Jones (“Tive que matar Bob Morton por que ele cometeu um engano, agora chegou a hora de acabar com esse engano”). Confiante, Dick Jones chama seu ED-209 que parte pra cima arregaçando o Robocop, que foge pelas escadas. O ED-209 tenta alcançá-lo, mas toma um tombo cômico na escada, incapaz de se levantar. Na saída do prédio uma SWAT (uma espécie de tropa de elite) à comando de Dick Jones tenta por um fim no Robocop, que é socorrido por Lewis, sua antiga parceira e levado para um esconderijo (bingo!... uma fábrica abandonada). É nesse momento que Robocop retira seu capacete, expondo novamente a face de Murphy unida com suas partes robóticas. Lewis fica feliz em ver o parceiro novamente e comenta que após o funeral sua família se mudou e tenta reconstituir uma vida nova. Robocop pede privacidade e medita sobre sua vida anterior.
Clarence, solto pelos advogados de Dick Jones, o faz uma visita e recebe ordens e armas pesadas para acabar com o Robocop, antes que ele denuncie Dick Jones pela morte de Bob Morton e envolvimento com criminosos. De posse de um localizador, Clarence e sua gangue chegam à fábrica abandonada e são surpreendidos pelo Robocop e Lewis.

Emil joga o furgão dos bandidos sobre o Robocop, erra e acerta em cheio um tanque de ácido tóxico. Uma onda de ácido sai pela porta traseira do furgão e Emil se levanta berrando e se derretendo (nossa... essa cena é clássica e muito “gore”). Nos carros, Lewis persegue Clarence, que atropela o “cadáver vivo” Emil e acaba caindo num aterro. Ele sai de surpresa do carro e atira contra Lewis, que é salva na última hora pelo Robocop que vem ao encontro de Clarence. Leon, membro restante da gangue, maneja escondido um guindaste e joga uma pilha de vigas metálicas imobilizando o Robocop, mas logo é morto por Lewis, que se arrastando consegue atirar no guindaste com uma arma pesada, caída do carro de Clarence.



Emil se derretendo após o banho de ácido: cena clássica

Oportunista, Clarence bate no Robocop com uma viga de metal e a enfia no peito dele que grita furioso, bota pra fora a agulha retrátil e enfia com violência no pescoço de Clarence que cai agonizando.


Vingança final


Já no final (ufa) Robocop vai ao encontro do Dick Jones, no momento em reunião na corporação. Com um tiro do canhão de Clarence ele abate um ED-209 e sobe até a sala da corporação, acusando Dick Jones. Por sua vez Dick Jones tenta difamá-lo, mas Robocop explica que não pode agir contra um membro da empresa e exibe no vídeo da sala a gravação do próprio Dick Jones justificando por que matou Bob Morton. No desespero Dick Jones toma o Velho como refém e exige um helicóptero. Nesse momento o Velho o demite e a diretiva 4 automaticamente desaparece. Robocop dispara tiros certeiros e Dick Jones despenca de cima do arranha-céu.


Dick Jones despenca prédio abaixo: fim digno de um "poderoso-chefão"


O Velho agradece e pergunta o nome do Robocop, que diz orgulhoso: “Murphy”.
 
Missão cumprida!


O Legado Pessoal: Porto Alegre, as drogas e o meu pai

Robocop é um filme que me marcou muito. Primeiro, o assisti bem na época que minha família se mudou da Paraíba para Porto Alegre, quando eu ainda me acostumava com a idéia de cidade grande e todas as suas implicações, positivas e negativas. Eu percebia que Porto Alegre tinha desenvolvimento e tecnologias mais acessíveis, porém também possuia marginalidade, violência e drogas. Foi com esse filme que aprendi o quanto as drogas geram violência e degeneram a sociedade. Desde meus 9 anos sou radical nesse quesito (legalização é o caralho!) e fico profundamente triste ao reconhecer o quanto as drogas estão presentes nos nossos meios.

Naquela época eu ainda acreditava que o Robocop viria botar ordem no Brasil, transformá-lo num lugar melhor, seguro e livre da violência. Hoje, sei que cada um tem sua parcela de responsabilidade com o mundo em que vivemos. Alex Murphy era um homem íntegro, religioso, carinhoso com a família e dedicado ao seu trabalho, enquanto Robocop era um ser dotado de coragem e determinação. Todas essas qualidades me lembram meu pai, o super-herói mais real que tive o privilégio de conhecer. Talvez seja por esse motivo que o Robocop ainda é tão significativo para mim.


Sobre tudo isso, me pergunto... não deveríamos nós sermos os exemplos para os que virão? Por que será que ser super-herói real anda tão fora de moda?


Quer assistir ao filme? Então baixe os dois primeiros links (parte 1 e parte 2) e extraia o filme num só arquivo.
O filme está no formato dual audio, em português (dublado) ou inglês. Se preferir o modo inglês a legenda está nesse próximo link:

Quer saber mais sobre Robocop? Então acesse o melhor site do mundo sobre o herói: http://robocoparchive.com/ Muita informação e curiosidades. Sensacional!


Quer ir à uma "festa à fantasia" em grande estilo? Tinha uma armadura completa do Robocop, usada e autografada pelo ator Peter Weller (o Murphy) à venda no Ebay por 2.250 dólares, mas infelizmente já foi vendida. Tem uma bem tôsca à venda nesse site: http://www.joke.co.uk/fancy_dress/adult_robocop_80s_costume~62481.html?source=AFFWIN&awc=854_1260316640_a98de2aac63ae91ebaccd2775208857b . Agora, se você deseja exercitar sua criatividade, faça você mesmo o seu sucesso:


Fantasia caseira do Robocop: o que vale é a intenção... certo?