segunda-feira, 15 de março de 2010

REVIEW: Dingoo A-320



Dingoo, o pequeno notável.

Eu tenho trauma de lojas de roupa, pois quando criança meus pais sempre gastavam horas provando roupas comigo e quase nunca sobrava tempo para eu “olhar os brinquedos”. Só depois de casado foi que percebi o quanto as mulheres amam esses lugares (e quanto os maridos odeiam). Assim, um marido adorável seria aquele que conseguisse driblar esses momentos adversos, certo?

Eu precisava urgentemente encontrar uma alternativa viável. A solução foi comprar – após muitas pesquisas na internet – um mp5 que além de executar músicas e vídeos, também emulasse roms (arquivos contendo jogos antigos, baixados de graça pela internet) de Nintendo e Gameboy. Foi amor à primeira vista e nunca mais eu me estressei em lojas de roupa, filas de banco, consultórios médicos e outros lugares chatos. Eu tratava meu mp5 Foston FS-1210 como um verdadeiro PSP de pobre, possuindo na época uma comunidade do Orkut onde eu postava novidades e respondia dúvidas de outros usuários.

Foston FS-1210, o "PSP" de pobre


A despeito disso, eu sabia que o meu mp5 era muito limitado, não rodava todos os jogos, os botões eram duros e impróprios, além da bateria de baixa autonomia (no máximo uma hora). Foi aí que descobri diversos portáteis chineses alternativos e um deles, o Gemei X-760 chamou minha atenção, pois além de Nintendo, emulava videogames mais avançados como Mega Drive, Super Nintendo, Gameboy Advance e Neo Geo.
Gemei x-760, seria ele o salvador dos lugares chatos?

O frenesi durou pouco, pois enquanto buscava informações sobre esse portátil surgiu algo sem precedentes e que só existia na minha cabeça, o Dingoo A-320.

Dingoo A-320, meus problemas acabaram

O Gemei ainda era um mp5, já o Dingoo inaugurou em novembro de 2008 uma nova linha de portáteis, não era mais um mp5 comum e nem ousava competir diretamente com portáteis modernos e caros como o PSP e o Nintendo DS, mas atendia as expectativas dos retrogamers (jogadores antigos) e programadores, oferecendo como adicional diversas funções multimídia.

Um professor amigo meu, aficionado por tecnologia, sugeriu comprar o Dingoo no site da Deal Extreme através do cartão de crédito dele, e eu acertaria o valor quando o Dingoo chegasse no Brasil. Dias depois eu estava com o meu Dingoo na palma da mão.

E foi amor à primeira vista...


Vamos conhecê-lo?
Visual

Cor branca com design simples, limpo e agradável. Possui uma parte superior de acrílico meio transparente e uma parte inferior de plástico fosco, que oferece uma pegada firme. A parte inferior também possui borrachinhas (cobrindo os orifícios dos parafusos) que evitam que o aparelho escorregue em superfícies lisas. Os botões são pequenos, compatíveis com o tamanho do aparelho. Quem tem dedos grandes pode estranhar de início, mas logo se adapta. Possui um direcional, 6 botões de ação e botões start e select. O botão power é deslizante e possui uma trava caso queria travar os demais botões (útil no modo “mp3” com o aparelho no bolso da calça). Possui um botão reset protegido que pode ser acessado com um clips ou palito toda vez que o software do aparelho der algum problema (raro). Possui ainda uma porta mini-USB, uma saída AV-out e um microfone embutido. O acabamento externo é primoroso, surpreendente por se tratar de um produto chinês.
Imagem

Tela de 2,8 polegadas. Com boa iluminação, cores vivas e vibrantes. Não cansa a vista. O modelo de tela é semelhante à de celulares de qualidade, sendo fácil de achar e substituir caso seja danificada acidentalmente. Também é possível utilizar um cabo AV-out incluso para assistir vídeos ou jogar diretamente na TV. Apesar da resolução ser 320x240 pixels, a qualidade dos vídeos transmitidos do Dingoo para a TV é similar a de vídeos assistidos no computador. Da mesma forma, os jogos apresentam a mesma qualidade vista nos videogames originais.

Som


Ele possui duas caixas de som stereo embutidas que reproduzem um som satisfatório, nada excepcional. Os fones de ouvido são da mesma cor do aparelho, com qualidade razoável e bastante duráveis. A entrada para os fones está localizada na lateral esquerda. Apesar da entrada lateral de fones ser útil quando o aparelho está no bolso em modo mp3, ela atrapalha a empunhadura em jogos. Felizmente, é possível utilizar a saída AV-out como entrada para fones alternativa, resolvendo esse problema.


Embalagem e Itens Inclusos

A embalagem é pequena, simples e pouco informativa, características comuns em embalagens de produtos chineses. O Dingoo vem acompanhado de: garantia, manuais em inglês e chinês, cabo USB, cabo AV-out e carregador bi-volt retrátil na cor do aparelho (se liga ao cabo USB para carregar o Dingoo).


Portabilidade, Autonomia e Durabilidade

O Dingoo é portátil o suficiente para caber discretamente no bolso da calça. Pra quem mora em cidade grande, como eu, esse é um detalhe importantíssimo, pois a bandidagem está sempre à espreita, cobiçando o que é do alheio. A bateria dura muito tempo, cerca de 10 horas com música ou 6 horas de jogo (com fones), mais ou menos. No modo mp3 ele poupa a bateria desligando a tela. A recarga demora cerca de 3 horas, sendo possível recarregá-lo pelo carregador retrátil ou pela USB num computador ou notebook. Tenho meu Dingoo há 10 meses e nunca apresentou problemas. Relatei apenas o desgaste da tinta que nomeia alguns botões e o sumiço de borrachinhas da parte traseira.

Multimídia


Apesar de eu utilizar muito pouco as outras funções multimídia do Dingoo (com exceção do modo mp3) vou tecer alguns comentários.

Músicas
O player mp3 do Dingoo suporta formatos de música em mp3, wav, ape, flac e permite vários modos de exibição: todas as músicas, aleatório, uma pasta específica, um álbum específico, um artista específico, um título específico, favoritos, etc. Também tem um sistema de buscas. Possui diversas equalizações disponíveis e funções de adiantar/retroceder, próxima música, volume, pausa e repetição. A qualidade é boa e depende bastante da equalização escolhida ou dos fones utilizados.

Rádio AM/FM
A qualidade do sinal varia conforme o ambiente, óbvio. Ele possui uma busca automática ou manual por estações disponíveis. Também permite opções de exibição e a função de gravação da estação em execução.


Gravador
Possui um microfone embutido que permite a gravação de palestras, músicas, em qualidade mp3. A qualidade de gravação pode ser alterada, o que vai influir na quantidade de horas de gravação. Achei a qualidade da gravação semelhante à de mp3 ou mp4 comuns, ou seja, ruim, longe de se comparar com um gravador cassete da Panasonic, no qual eu e minha irmã gravávamos nossas músicas.

Visualizador de Fotos
Apresenta miniaturas das fotos em formato jpeg, gif, bmp ou png. Conforme a qualidade das fotos pode demorar um pouco para carregar essas miniaturas. A visualização é boa, permite zoom e utilização da foto como plano de fundo dos menus interativos, inclusive do menu principal. Permite também fazer slide show. Uma super-dica que li num fórum do Orkut foi a utilização dessa função como data-show. Isso mesmo! Ao transformar seus slides em figuras, eles podem ser exibidos numa TV através do TV-out. Um data-show pode ser algo restrito em vários lugares, mas uma TV nunca será, certo?

E-book
Infelizmente, até o momento o Dingoo só permite a leitura de arquivos txt, nada de doc ou pdf. Nas funções de sistema do Dingoo é possível alterar a cor da fonte dos menus e escolher uma ideal para o plano de fundo desejável (preto, branco, azul, imagem, etc...) e música de fundo.

Vídeos
O Dingoo é capaz de rodar vídeos em formatos avi, wmv, flv, mpeg4,  rm e rmvb. Esse último formato é dominante em sites de downloads de filmes, seriados e desenhos animados por seus arquivos serem de tamanho reduzido e qualidade razoável. Possui opções de exibição e formatos de tela. Não suporta legendas. Para assistir a um filme legendado é preciso que a legenda esteja embutida na imagem do filme. Testei vários vídeos no Dingoo e percebi que arquivos pequenos a médios com até 700mb, em geral, rodam bem. Testei um filme com 800mb e rodou sem problemas. Curiosamente, um filme em rmvb de 480mb rodou com lags (atrasos). Testei um show do Led Zeppelin com 1.2Gb e rodou com lags. Considero uma função importante caso o objetivo seja assistir episódios de seriados, desenhos ou vídeos baixados no youtube. Quanto aos filmes, é bem melhor assistir em telas grandes, de preferência no cinema, ok?

Jogos Nativos
A empresa Dingoo Digital possui um pequeno time de programadores responsáveis pelo desenvolvimentos de jogos próprios para celulares e para o Dingoo. O grande destaque vai para os jogos 3D com qualidade semelhante à de jogos de Playstation 1. Dentre esses jogos destacam-se Heaven and Earth (aventura medieval com luta de espada), Hell Striker (aventura semelhante a anterior, porém com opções de magias, etc), Ultimate Drift (jogo de corrida focado na modalidade derrapada) e o jogo mais impressionante de todos, 7 Days Salvation. O 7 Days (como é chamado) é uma espécie de Resident Evil do Dingoo, um jogo na modalidade survivor-horror, no qual o personagem tem que sobreviver as ameaças de zumbis, fantasmas e outros monstros numa mansão cheia de mistérios e quebra-cabeças intrincados. Vou dedicar um review sobre esse jogo, já que finalizei a versão em inglês (a versão chinesa é mais completa) e inclusive postei um vídeo no youtube com o final do jogo.

Fotos do jogo 7 Days Salvation, incluso e desenvolvido
especialmente para o Dingoo: gráficos e enredo de tirar o fôlego


Emulação

O carro-chefe do Dingoo. O aparelho já vem de fábrica com diversos emuladores, cada um com sua tela de opções que inclui reset, save/load state (você pode salvar o seu progresso no jogo para continuar noutra hora), configuração de botões, volume. Abaixo descrevo o desempenho de cada um:

CPS2 – jogos de arcade mais avançados em termos de gráfico e som, feitos para a placa CPS2 da empresa Capcom. Inclui Alien VS Predator, Darkstalkers, X-Men vs Street Fighter, Marvel vs Capcom, etc. Alguns reviews na internet consideram o emulador razoável, com slowdown (lentidão na animação) e muita incompatibilidade de roms. Mesmo assim, considerei bom.

CPS1 – trata-se de jogos de arcade feitos para a placa CPS1 da Capcom. Emula jogos como 1941, Final Fight, Captain Commando, Megaman the Power Battle, Strider, Street Fighter 2 – The World Warrior e as variantes Champion Edition e Hyper Fighting (Turbo). A qualidade é muito boa, semelhante à de emuladores de PC como o MAME.


NeoGeo – era o videogame mais poderoso (e mais caro) de seu tempo, praticamente um fliperama em casa. O emulador desse videogame permite jogar Fatal Fury, The King of Fighters, SNK vs Street Fighter e outros gêneros. Pra mim esse emulador ficou bastante dinâmico.



Supernintendo (SNES) – o famoso 16 bits da Nintendo com jogos como Supermario, Donkey Kong, Killer Instinct, etc. O emulador é ruim, com muito slowdown, falhas na sincronia de imagem e som e incompatibilidade de roms, principalmente jogos que originalmente utilizavam chips especiais como, por exemplo, Starfox, Mario Kart e Street Fighter Alpha. Apesar das limitações desse emulador, o considerei “jogável”. Em jogos que exigem menos do emulador, como Prince of Persia ele funciona muito bem. A versão de Mortal Kombat 2 nesse emulador é a mais satisfatória do Dingoo.

Mega Drive – o 16 bits da SEGA, meu videogame de estimação, que possuía Sonic, Streets of Rage, Super Mônaco GP, etc. É o pior emulador do sistema nativo do Dingoo, possui slowdowns, lags, chuviscos, defeitos na imagem e no som. Um exemplo decepcionante é a série Sonic, cuja emulação demonstrei num vídeo no youtube. Em minha opinião o pior problema foi a falta de suporte aos 6 botões originais. Mesmo com a diversão um pouco comprometida pela qualidade do emulador, é possível jogar diversos títulos desse videogame.

Gameboy Advance (GBA) – um dos videogames portáteis mais famosos da Nintendo, com 32 bits de potência e uma infinidade de títulos, a maioria ainda bastante atual. É a melhor emulação realizada pelo Dingoo e a que mais utilizo. Roda vários jogos do Mario e inclusive jogos 3D como Mortal Kombat Deadly Alliance, Need For Speed Underground 2, Crazy Taxi, Iridion 3D e Driver 3. Esse último é sensacional, o mais próximo possível do estilo GTA. Infelizmente nem tudo é perfeito e alguns jogos 3D não rodam ou apresentam lags, como no caso do TG Rally e de DOOM ou Duke Nuken Advance, jogos que levavam o GBA aos limites.

Nintendo (NES) – o clássico 8 bits da Nintendo com seus sucessos: Super Mario Bros, Batman Return of the Joker, Turtles The Arcade Game, Megaman, Gremlins 2, Zelda, etc. Esse emulador também é perfeito. Li relatos de incompatibilidade com um ou dois jogos, mas nada relevante. Battletoads e Batman Return of the Joker são exemplos de jogos que não rodavam no meu antigo mp5 e que rodam liso no Dingoo.



Firmwares e Homebrews

Os firmwares são atualizações do sistema operacional do Dingoo que podem ser baixadas da internet e instaladas, melhorando o visual e corrigindo bugs (defeitos) no sistema anterior. A Dingoo Digital é uma empresa que não disponibiliza suporte algum ao Dingoo, nesse caso, diversos programadores amadores se empenham em criar seus próprios firmwares e disponibilizá-los “pra galera”, como o caso do firmware pt/br, que altera o idioma para português do Brasil e adiciona diversos elementos visuais ao menu principal. Outros programadores se empenham em desenvolver aplicativos e jogos conhecidos como homebrews, algo como “feito em casa”. Um homebrew interessante é o overclock, programa que permite acelerar o clock do processador do Dingoo de 300 para 420 Mhz, melhorando o desempenho de emuladores em diversos jogos. Não está claro ainda que esse aplicativo possa trazer algum dano físico ou desgaste ao processador, mas quase não uso pois a melhoria no desempenho é muito pequena, coisa de 5 a 10% no máximo. Outro homebrew mais banal é o cronômetro, usual em algumas ocasiões. Os homebrews realmente importantes são os emuladores de sistemas alternativos, os quais descrevo abaixo.

Master System – o 8 bits da SEGA, famoso no Brasil graças à empresa Tectoy e a jogos como Alex Kid, Renegade, Dynamite Duke, Mickey’s Land of Ilusion, etc. Foram lançadas umas 3 versões de emuladores, sendo que a última está quase perfeita, a não ser pelo som um pouco estridente, mas que não afeta a jogabilidade.





Game Gear – o portátil da SEGA, exuberante pelos jogos coloridos, mas pecava pela baixa portabilidade. Funciona pelo mesmo emulador de Master System. Curiosamente (exceto pelo som 80% fiel) os jogos de Game Gear rodam melhor no Dingoo do que no Game Gear original, devido a melhor qualidade da tela e dos controles do Dingoo.



O Master System e o Game Gear também podem ser emulados de forma alternativa. No tempo do GBA existia um programa que transformava uma lista de jogos desses sistemas numa rom composta de GBA. A performance dessa “emulação da emulação” é tão boa quanto a emulação atual.



Gameboy Classic/Gameboy Color – sucessos absolutos da Nintendo, possuem uma ampla gama de jogos, como Tetris, Supermario Land, Castlevania, Contra, etc. A primeira versão do emulador foi uma das primeiras homebrews lançadas, mas continha muitos bugs, cores estranhas, etc. A versão atual é excepcional e definitiva.






PCEngine – um videogame famoso no Japão, mas que pouca gente viu, possuía jogos como After Burner 2, Splatterhouse, Shinobi. A versão atual do emulador é boa, mas ainda faltam corrigir alguns bugs e slowdowns. A versão de Street Fighter 2, que rodava em CD travou e não rodou nesse emulador.





Lynx – o portátil da Atari era como o Game Gear, potente, exuberante, mas “ordinário”, consumia pilhas tal como um Opala bebe gasolina e era um trambolho. Tinha jogos interessantes e mais modernos que seus concorrentes, como por exemplo, Blue Lightning, Alien vs Predator, Race Drivin, STUN Runner, etc. O emulador é excelente.




Atari 7800 – versão mais moderna do Atari 2600 e 5200. Possuía jogos mais elaborados, tipo Dark Chambers, Karateka, porém teve pouco sucesso. A emulação é razoável.







Colecovision – concorrente do Atari 2600, contava com versões mais modernas de Pitfall, Dragon Fire, Keystone Kappers, etc. É uma boa alternativa mais próxima do Atari 2600, que infelizmente ainda não tem emulador disponível no sistema nativo.








Odyssey 2 – pense num videogame antigo em que um quadrado era suficiente para representar uma pessoa, assim eram os gráficos do Odyssey 2. A emulação parece “perfeita”, mas minha utilização desse emulador é quase nula, possuo apenas por fetiche.






Sierra – apesar de não ser um videogame, e sim uma empresa, diversos de seus adventures antigos de PC podem ser jogados através de tranformação de roms para o formato GBA. Assim é possível jogar King Quest, Space Quest, Police Quest e até Leisure Suit Larry (jogo no estilo “solteirão procura diversão”), sendo que esse último não consta dentro da rom pronta que encontrei para download e o site do programa de que transforma esses jogos para o formato GBA está desatualizado. A emulação é satisfatória.


A Revolução do Dingux


O Dingoo, com todas as suas qualidades já podia ser considerado um portátil excelente, mas ainda na segunda metade de 2009 seus usuários ficaram boquiabertos quando Booboo, um programador amador da Espanha, lançou o Dingux, o Linux do Dingoo. A partir daquele momento o céu não era mais o limite e as possibilidades para o Dingoo tornaram-se infinitas. No início as experiências eram realizadas com o Dingoo acoplado a um computador normal. Logo depois o Dingux ficou maduro o suficiente para ser instalado num cartão de memória externo, através da porta miniSD do Dingoo. Agora com o dualboot, podíamos escolher entre o sistema original (nativo) ou o sistema Dingux. Programadores amadores do mundo inteiro, inclusive brasileiros, se dedicaram intensivamente ao Dingux e lançaram jogos caseiros, ports (versões) de jogos de PC, emuladores variados bem melhores que os do sistema nativo, além de vários aplicativos diferentes. Pra se ter uma idéia, no auge da Dingoomania era comum 2 a 3 lançamentos diários no blog “dingoo scene”, uma das principais e mais ativas fontes de informações sobre o Dingoo. Só pra não deixar passar em branco, vou citar alguns dos lançamentos mais importantes:

Ports de PC: DOOM I e II, Duke Nuken 3D, Quake, Wolfenstein, Shadow Warrior, uma versão de Half Life, Flashback, Out of This World, Prince of Persia (versão inacabada).
Prince of Persia no Dingoo, sonho inacabado

Emuladores: vários emuladores diferentes, inclusive pra videogames que eu nunca ouvira falar antes. Vou citar aqueles que considerei mais importantes (são mais de 20).

Picodrive – emulador de Mega Drive e Sega CD quase perfeito, cujo criador promete novidades, como suporte ao 32X.

SNES9X – emulador de SNES que roda quase tudo em fullspeed, a última versão em desenvolvimento já roda jogos especiais.

Stella – emulador de Atari 2600 o “glorioso”, emulação 80% perfeita.

MAME – emulador de arcades, emula quase tudo, inclusive clássicos como Turtles e Simpsons, sucessos dos anos 90 que fiz questão de postar no youtube.

Final Burn Alpha – emulador de arcades, com destaques para jogos de luta.

SCUMMvm – emulador de adventures da Lucas Arts, desde o clássico Maniac Mansion até Indiana Jones e Full Throttle.

PSX4All – Quando todos duvidavam da capacidade do Dingoo e vários vídeos fakes surgiam no youtube, fomos surpreendidos com o lançamento de um emulador de Playstation 1 para o Dingoo, que obviamente rodava com frameskip (perda de quadros de animação) e sem som, mas suficientemente bom para demonstrar o poder de fogo do Dingoo.



Razões para o Sucesso

O Dingoo é um BBB – bom, bonito e barato. É um produto competente e que cumpre além do que promete. Possui design clean, ótima ergonomia e acabamento de primeira. E o principal, um preço ridículo de apenas 83 dólares (146 reais pelo dólar atual) por um portátil multimídia que permite escutar músicas, assistir vídeos e jogar uma quantidade infinita de jogos de dezenas de tipos de videogames. Outros portáteis similares ao Dingoo, porém mais potentes, como o Wiz da GPH chegam a custar mais que o dobro do preço de um Dingoo. Esse preço baixo também é um fator importante para aqueles que compram o Dingoo no Brasil, vendido apenas por importadores independentes, muitas vezes com preço justo.


Dingoo Mania: Fatos

Para finalizar esse post imenso eu gostaria de enumerar alguns fatos sobre o Dingoo, que nem naqueles finais de filmes em que o locutor narra o que aconteceu depois com as personagens, antes dos créditos... hehehehe.

1 – A Dingoo Mania se espalhou pelo mundo através da propaganda boca-a-boca, já que nenhuma propaganda oficial foi veiculada.
2 – Superou minha expectativa de passatempo e se tornou um hobby.
3 – Foi lançada uma versão preta do Dingoo, ampliando o leque de opções do portátil.
4 – O Dingux virou Lei, item obrigatório após aquisição do Dingoo.
5 – O PSX4All assustou quem subestimava o poder de processamento do Dingoo.
6 – Quando entrei na comunidade do Dingoo no Orkut, em março de 2008, existiam 30 membros e quase ninguém possuía Dingoo, hoje somos mais de 1.000 membros, sendo que grande parte possui seu próprio Dingoo.
7 – A fábrica chinesa da Dingoo Digital não consegue atender a demanda do portátil, assim os modelos estão em falta há meses em diversos sites de venda online.
8 – A “cena Dingoo” ainda sobrevive, porém com lançamentos menos freqüentes.


Quer acompanhar as novidades sobre o Dingoo de um jeito bem brasileiro? Então siga o blog de meu amigo Ezequiel e colaboradores: http://www.dingoobr.com/

Quer saber tudo que foi lançado para o Dingoo? Acompanhe o principal blog mundial sobre a cena Dingoo desde os primórdios aos tempos atuais: http://dingoo-scene.blogspot.com/



Entenda mais sobre o Dingoo através desse post sensacional do Orakio, o Gagá Games, (principal site nacional sobre jogos antigos), lá vc encontra respostas às dúvidas mais freqüentes, o review, detalhes sobre os emuladores e um tutorial sobre como instalar o Dingux: http://www.gagagames.com.br/?p=8264



Gostou, quer comprar? Bem, eu te indicaria esses dois sites: http://www.dealextreme.com/details.dx/sku.20217 (Dingoo branco), http://www.dealextreme.com/details.dx/sku.23032 (Dingoo preto), porém ambos estão em falta, assim indico para quem tem cartão internacional comprar aqui: http://www.focalprice.com/GT021W/Dingguo_A320_Digital_Multimedia_Player_White.html ou se acaso queira comprar no Brasil, considere comprar no Mercado Livre através de pessoas idôneas, algumas são membros de longa data na comunidade Dingoo Brasil no Orkut e já venderam várias unidades a outros membros.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Bombas Atômicas: Documentários



Quando eu era pequeno, um amigo de meu pai me deu uma revista sobre o Nostradamus, na qual ele previa que o fim dos tempos viria com a Guerra Nuclear. Lembro que eu fiquei impressionado com a foto estampada na capa da revista (teste nuclear francês de codinome Licorne, esse da foto acima). O que era aquilo?

Na adolescência li uma matéria da Super Interessante sobre os 50 anos do bombardeio de Hiroshima e Nagasaki e aprendi o quanto essas armas são perigosas. Nas horas vagas de 2008 comecei a me interessar mais sobre as bombas atômicas, bombas termonucleares e a Guerra Fria que foi a força-motriz de uma paranóia coletiva. Hoje em dia, a maioria das pessoas desconhece ou não dá o devido valor ao tema, no entanto, esse período nebuloso da história humana foi algo mais próximo possível do apocalipse.

Os livros didáticos de história são muito ruins - fato. Somado a isso, a maioria dos professores não conseguem fazer a conexão entre o tema da aula e o cotidiano dos alunos, por isso uma grande maioria acha a disciplina história uma chatice, sem conexão com sua vida. Infelizmente, só por conta própria é que podemos vislumbrar um mundo no qual ocorreram coisas maravilhosas, fantásticas ou assustadoras.

O mundo da energia nuclear está intimamente ligado com as bombas nucleares e a Guerra Fria. O assunto é vastíssimo e intrigante, por isso está bem disponível na internet em vários sites especializados. Pra quem interessa a melhor coisa, sem dúvida, são os documentários que oferecem informações precisas de maneira compacta e visual. Há também filmes que retratam a construção da bomba atômica, o ataque à Hiroshima, a Guerra Fria, etc. Acumulei e assisti vários deles. Vou listar e comentar resumidamente os mais importantes (postarei reviews mais completos em breve):

The Atomic Café

Melhor documentário feito sobre as armas nucleares e a Guerra Fria. Mostra toda a paranóia do pós-guerra, época em que as hostilidades entre EUA e USSR (União Soviética) eram constantes. O documentário reúne reportagens de jornais, propagandas políticas, espionagem, depoimentos surpreendentes e informações técnicas, tudo editado de uma maneira sensacional, que impressiona o leigo. Há uma cena em que um pai veste seu filho para ir pra escola, com uma roupa de chumbo e máscara... o menino mal consegue subir na bicicleta. E há também cenas clássicas como a propaganda do Duck and Cover, ensinando as crianças que ao ver o flash da bomba elas deveriam se jogar no chão e se cobrir... uma atitude quase em vão. Tem também um teste nuclear em que soldados são usados como cobaias num exercício que simulava um contra-ataque nuclear a uma invasão do inimigo... os soldados se refugiavam em trincheiras, a bomba explodia e os soldados caminhavam até o ponto zero da explosão, se contaminando seriamente com a radiação. O documentário mostra também a paranóia da construção de abrigos anti-nucleares. Enfim, The Atomic Café é riquíssimo, um documentário essencial.

Trecho da campanha "Duck and Cover": http://www.youtube.com/watch?v=_mlREiQX1WU

Filme completo online: http://www.youtube.com/watch?v=NOUtZOqgSG8

Trinity & Beyond

Reúne a maior coleção de vídeos sobre testes nucleares. É um documentário mais técnico do que o The Atomic Café. A trilha sonora é meio fantasmagórica e se encaixa bastante no contexto das explosões nucleares. O documentário inclui o desenvolvimento de Trinity (primeiro teste nuclear), os bombardeios atômicos no Japão (Hiroshima e Nagasaki), os testes de novos tipos de bombas nucleares, testes nucleares no Pacífico (Atol de Bikini) e no deserto de Nevada, a bomba atômica soviética, a bomba de hidrogênio (chamada termonuclear ou de fusão nuclear) mais de mil vezes mais potente que as bombas atômicas de urânio e plutônio. Foi o primeiro documentário que assisti e senti uma sensação estranha: ao mesmo tempo admirado com aquelas explosões grandiosas e “bonitas”, mas ao mesmo tempo impressionado pela insanidade de seu propósito. Altamente recomendado!


Hiroshima

O nome já diz tudo. Mostra como foi planejado e realizado o bombardeio atômico de Hiroshima. Os americanos precisavam justificar o esforço científico e bilionário da bomba atômica, criada originalmente para bombardear os nazistas. Com a derrota da Alemanha meses antes e um Japão prestes a se render, os americanos decidem lançar desesperadamente as bombas sobre Hiroshima e Nagazaki. As duas eram cidades civis pouco afetadas pela guerra, alvos perfeitos para avaliar o poder de destruição e os efeitos das bombas sobre os seres humanos, uma experiência cruel. Além disso, o feito tinha um objetivo moral (ou imoral) que era de impor para o mundo quem é que mandava na Terra dali pra frente. Os relatos dos sobreviventes são surpreendentes e emocionantes. Obrigatório!



Nuclear Rescue 911
Um documentário bem diferente. As nações nucleares, principalmente os EUA e a Rússia, possuem um arsenal nuclear imenso e seu controle é uma questão de segurança nacional, certo? E se algo sair errado? Acidentes acontecem, mas quando o assunto é nuclear, as conseqüências podem ser devastadoras. Na década de 60, houve períodos em que uma Guerra Nuclear era iminente, assim os EUA e a USSR mantiam seus bombardeiros carregados de bombas nucleares voando à espera de ordens para atacar o inimigo (e por fim à raça humana). Assim, em algumas ocasiões alguns aviões sofreram panes, caíram e sua carga perigosa (bombas nucleares) sumiu ou contaminou o meio ambiente. Há relatos de explosões de foguetes, bombas nucleares que não explodiram, etc. Uma palavra para esse documentário: tenso. Só vale a pena pra quem já assistiu outros e se interessa realmente pelo assunto.

 
Atomic Journeys

Este documentário trata de turismo nuclear, diversos testes e explosões nucleares de menor relevância, dá ênfase em testes e explosões nucleares "pacíficas", dentro de cavernas, na água, para fins de engenharia, etc... que foram utilizadas pelos EUA até o final da década de 70. É uma pena que eu não tenha achado nenhuma legenda, nem ao menos em inglês pra esse filme. É um documentário secundário, menos importante do que os outros comentados anteriormente, mas vale a pena por mostrar outros usos para as bombas atômicas, usos estes cuja eficácia e utilidade são questionáveis. Após a proibição de testes nucleares na atmosfera, mar e espaço, a única alternativa que restou foi o subterrâneo. Numa das cenas do filme aparece um deserto cercado de crateras feitas pelo homem. Logo no início aparece uma peregrinação de turistas ao ponto zero, o local onde foi detonada Trinity, a primeira bomba atômica (quero ir lá).

Trailer: http://www.youtube.com/watch?v=QBliwf2bOUs

The Atomic Filmmakers
Pare e pense: como conseguiram filmar as explosões nucleares? O que aconteceu com os filmadores? Como as câmeras resistiram? Tudo isso e muito mais está presente nesse documentário, rico em detalhes técnicos com depoimentos e imagens de perder o fôlego. A parafernálhia técnica que era instalada nos locais dos testes era impressionante e o que se tinha de mais moderno na época. No final do documentário são reunidos todos os filmadores que participaram dos testes nucleares das décadas de 50 e 60. Esses homens elevaram seu trabalho a um nível de uma verdadeira arte. Quantas pessoas tiveram a oportunidade de assistir a uma explosão nuclear ao vivo? Filmar de perto esses acontecimentos então era uma aventura muito ousada.





Hitlers Plan To Atom Bomb New York

Um documentário singular do History Channel que conta os planos de Hitlers para bombardear os EUA. O ano era 1944, os nazistas haviam percebido da vulnerabilidade dos EUA a um bombardeio em seu território, principalmente New York. Os cientistas de Hitler tentaram a todo custo desenvolver o projeto que resultou em diversas tecnologias que mais tarde foram capturadas e serviram de base para o desenvolvimento de aviões militares e foguetes americanos. Dentre as idéias mais desesperadas ousadas um submarino japonês teria uma cúpula em sua parte superior que abrigava um pequeno avião que ao chegar na Costa Leste americana decolaria usando a longa parte superior do submarino e bombardearia New York com uma bomba suja de urânio. Os nazistas não possuiam urânio enrriquecido para uma bomba atômica legítima, então a solução seria usar explosivos convencionais misturados ao urânio que contaminaria as pessoas e o ambiente. Surpreendente!



The House in The Middle

Esse documentário é curtíssimo e se trata de uma das diversas propagandas vinculadas pela Defesa Civil americana durante a Guerra Fria. Ele demostra através de um teste nuclear que as casas de cor branca, que não possuem galhos secos e nem lixo ao redor podem sobreviver a alguns dos efeitos nucleares, dentre eles o "flash" inicial, que é tão forte que pode simplesmente queimar diversos tipos de materiais, inclusive pessoas que estejam há quilômetros de distância. Ele demonstra que a casa do meio (as outras duas foram reduzidas às cinzas) permaneceu de pé, porém não comenta os efeitos que os moradores sofreriam, ou seja, de que adianta a casa ficar de pé se seus moradores estão todos mortos, não é mesmo? É bem interessante.




Nuclear Jihad: Can Terrorists Get The Bomb?

Polêmica moderna. Os muçulmanos possuem a bomba atômica? Quais as implicações acerca desse mito? É muito difícil ser imparcial diante desse conflito, ainda mais por que tenho plenas convicções de que política e religião resultam numa mistura explosiva muito perigosa. O documentário foca principalmente na pessoa de Abdul Qadeer Khan, cientista nuclear e pai do Programa Nuclear Paquistanês, considerado como maior difusor das tecnologias que podem levar os terroristas à bomba nuclear. Considero esse documentário importantíssimo pela sua atualidade, já que se trata da nova paranóia americana: o terrorismo nuclear. Para mim, a posse de armas nucleares pelas nações islâmicas é apenas uma questão de tempo. É improvável que haja uma guerra nuclear, as probabilidades para esse cenário são remotas, porém quando o assunto é terrorismo pode se esperar qualquer coisa.

Filme completo em 5 partes: http://www.youtube.com/watch?v=d1uWagjqRds


Ainda existem outros bons documentários sobre bombas nucleares e suas implicações. No próximo post pretendo apresentar filmes interessantes sobre o tema. A energia nuclear é feito humano milagroso, porém trouxe como consequência a irreverência humana, que através das bombas nucleares nos dá passe livre ao apocalipse.


Caso você veja um flash, não esqueça: Duck and Cover!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A Arte de Comer Caranguejos



Férias na Paraíba representam um período de pouco descanso, pois é tanta saudade pra matar que acho até injusto dormir. Ao mesmo tempo, é um período de verdadeiras orgias gastronômicas. Pudera, é mãe, avó e tias querendo me agradar de uma maneira infalível, pelo estômago. Dentre as iguarias, se destacam a buchada de bode, a galinha de capoeira na cabidela (galinha caipira numa espécie de molho pardo), doces e sucos nativos e, claro, caranguejo.

Desde criança eu era acostumado a consumir o crustáceo e ainda considero o caranguejo como uma de minhas comidas prediletas (a primeira é o camarão). Apesar do meu amor pelo bicho, percebi o quanto ele é incomum em outros lugares, como o RS e SP, lugares onde morei. Um episódio memorável foi quando eu tinha uns 13 anos e passava as férias na casa de minha avó em Alagoa Grande-PB. Naquela ocasião eu e minhas irmãs convidamos nossa amiga Calliandra (irmã de meu amigo Alamo) para jantar conosco. Aí, como Calliandra era visita, minha tia serviu primeiro no prato dela um caranguejão dos grandes, provocando um grito inesperado “Aaaaiii! Meu Deus! O que é issoooo?” e a família toda de boca aberta olhou pra ela e disse: “caranguejo”. Como ela havia morado na Espanha, realmente não se lembrava dessa delícia, portanto, não comeu. Em outras ocasiões, colegas do RS comentaram as oportunidades em que comeram caranguejo por ocasião dos congressos de Recife e Aracajú, sendo que boa parte lamentaram a experiência por dois motivos: pouca carne e muito trabalho para comer.

Assim, eis que venho nessa postagem compartilhar um pouco da arte caranguejeira que trago comigo. Pra começar, vamos direto ao habitat natural do caranguejo, o mangue. O mangue é um ambiente de transição, riquíssimo em biodiversidade, sendo que boa parte dos seres que lá vivem (animais e plantas) são endógenos, ou seja, só existem nesse tipo de ambiente. A importância do mangue é indiscutível, pois ele também serve como “berçário” para diversas espécies marinhas. Infelizmente, o crescimento urbano desordenado, a poluição, o desmatamento e a caça e pesca predatória têm ocasionado a degradação do mangue e das espécies que lá residem. Confesso que minha ignorância em relação a esses ambientes é grande, porém tenho interesse em aprender, principalmente por que o diagnóstico ambiental é uma de minhas áreas de atuação. Em relação ao caranguejo, tenho ficado apreensivo, pois como consumidor consciente eu tenho que saber a procedência do animal, se foi caçado respeitando o período de “defeso”, ou seja, períodos em que a captura de caranguejos é suspensa para que os mesmos possam acasalar e reproduzir. No início desse ano o IBAMA definiu diversos períodos de defeso e penalidades à quem caça, compra e vende caranguejos. Achei curioso, pois ao invés do defeso durar um mês inteiro ou algo tipo, dura de 5-6 dias seguidos de intervalos onde a captura é permitida. O problema: como provar que os caranguejos apreendidos não foram capturados durante o defeso? Tenho muito interesse de que a atividade caranguejeira seja seriamente regulamentada com base nos princípios da sustentabilidade, que beneficie e permita o desenvolvimento das populações que dependem dessa atividade, que nos proporcione o suprimento dessa iguaria com qualidade e que, ao mesmo tempo, conserve os mangues, dada a sua importância ambiental.

Como animal, o caranguejo é um ser curioso, tem a cabeça colada ao tórax, duas patolas (garras ou quelíceras) potentes (nos machos uma é maior que a outra), olhos guardados numa loca e anda de lado. Seria um alienígena? Não, apenas um sobrevivente como nós, cuja evolução o trouxe das eras primitivas aos dias atuais.

"Cordas" de caranguejo sendo transportadas do mangue para serem vendidas nas cidades

Aqui na PB, os caranguejos são comercializados vivos, amarrados um ao outro em “cordas”, pendurados numa vara que é apoiada nas costas do vendedor. O preço de cada “corda” de caranguejo custa em média de 5 a 10 reais, bem mais barato que um rabo de lagosta vendido no Zaffari de Porto Alegre por 50 reais. Enfim, com bastante dificuldade, minhas tias conseguiram para mim uma corda com 12 caranguejos que vieram diretamente de Bayeux-PB.

 
Caranguejos prontos para o abate e para a limpeza: dá pena nessa hora, mas fazer o que né...

 
Caranguejos limpos com perfeição: agora é só jogar na panela 

Ao chegar em casa, primeira coisa a se fazer é matar os caranguejos. Parece fácil, mas é nessa hora que muita gente se desespera... como matar o bicho? 1) Jogando-os na água fervente = uma morte horrível, cujo choque faz com que os caranguejos soltem as suas patas (indesejável); 2) Jogando-os no freezer por alguns minutos = uma morte indolor; 3) Facada = morte rápida. Meu pai os mata com a faca. Ao apontar a faca pro caranguejo ele a segura, meu pai o gira com as patas para cima e desfere uma facada no centro do tórax. O caranguejo morre em instantes. Depois, começa o processo de limpeza com água corrente e escovinha para tirar a lama do mangue. A parte de baixo, anexada ao tórax, contém os intestinos do caranguejo e deve ser retirada (é só deslocar e puxar). A segunda limpeza inclui a raspagem dos pêlos das patas do caranguejo com o auxílio de uma faca (a maioria das pessoas e restaurantes ignora essa parte e não tira os pêlos). Após uma segunda lavagem, os caranguejos podem ser cozidos juntamente com tomate, cebola e pimentão picados. Pode ser adicionado o leite de côco natural, que torna o caldo muito mais gostoso.


Nos restaurantes, o caranguejo é servido acompanhado de talheres e alicates especiais. Frescura!!! Para comer um bom caranguejo tudo o que você precisa são mãos firmes, dentes fortes, muita calma nessa hora e muita hora nessa calma. Tenho uma tia que não come caranguejo, ela o “masca”... isso mesmo, ela masca as patas do bicho, suga, e cospe fora o “bagaço”, sem engolir nada. Eu desenvolvi um método peculiar de comer caranguejo o qual considero eficiente por aproveitar ao máximo a iguaria. A descrição é a seguinte:


1 – Retire o caranguejo da panela e coloque-o no prato com as patas para cima para não escorrer o caldo de seu interior (detalhes no item 8). Comece pelas patas menores (que têm menos carne) até chegar às maiores.

2 – Aproveite cada pedaço separadamente.


3 – Morda e retire as extremidades do pedaço, para que ele não fique fechado, nem numa ponta, nem noutra.

4 – Sugue a carne.

5 – A retirada das extremidades faz com que a carne saia completamente ao sugar, deixando o pedaço oco.



6 – As patolas têm alguns detalhes. Após sugar a carne das partes anteriores da patola, retire a pinça móvel e coma a carne que vem colada nela. Com muito cuidado, quebre com seus dentes molares a parte maior da pinça. Não precisa usar tanta força, apenas o suficiente para rachá-la. Abra e coma a carne. Use seu dedo mindinho para acessar a carne aderida no interior da casca.


7 – O cefalotórax ou “cabeça” comumente dita possui caldo e partes comestíveis que concentram o sabor dos temperos adicionados ao cozimento. Ela pode ser consumida de duas maneiras: bebendo o caldo diretamente, pelo buraquinho do cefalotórax; ou separando a cabeça e o tórax, para depois beber o caldo da cabeça. Da segunda maneira o caldo bebido é mais consistente e gostoso.


8 – Se você optar por separar a cabeça do tórax, pode consumir o tórax primeiro. O tórax pode ser separado novamente em duas partes, que possuem na parte de cima pequenas brânquias (acho que são brânquias) com consistência fibrosa sem sabor (pode comer sem medo). A parte interna do tórax possui paredes de quitina (cascas) contendo carne em seu interior. Tem gente que “masca” essa parte e engole. Eu a quebro em várias partes menores e acesso a carne com os dentes e a língua.


9 – A cabeça – última parte a ser consumida. Simplesmente beba o caldo de seu interior (é uma delícia). Algumas partes do interior da cabeça ficam aderidas, você pode acessá-las diretamente com os seus dedos. Tem uma parte bem no centro da cabeça que até pode ser consumida, porém ao ser “estourada” tem um sabor um pouquinho amargo, mas nada desagradável. O ideal é que se retire essa parte interna e consuma todo o resto que tem um sabor sensacional.

10 – O próximo! É impossível comer um só. Caranguejo é bom e faz bem, aprecie sem moderação.


Bom apetite!

Agradeço a Cazuza e Kika pelas fotos e paciência enquanto eu curtia essa degustação, e às tias por terem conseguido os caranguejos apesar da dificuldade em se encontrar caranguejos atualmente.






Quer conhecer um programa de proteção ao caranguejo? Acesse esse site: http://www.puca.org.br/

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Computadores da Minha Vida




Andei pensando esses dias sobre algo que é comum a maioria de nós: o tempo em que passamos na frente de um computador. Hoje em dia é comum que as pessoas passem mais de 3 horas diárias em frente a essa máquina, mas antigamente (década de 80 e 90) isso ainda era uma novidade. Atualmente, o computador representa uma extensão do ser humano no mundo em que vivemos, e por que não dizer um encontro consigo mesmo, uma vez que somos o que sabemos, o que queremos e o que sonhamos, e tudo isso imprimimos no nosso relacionamento com o computador. Bem, deixando a filosofia um pouco de lado, o objetivo desse tópíco é relembrar com saudosismo a alvorada de uma era que me marcou, a era do computador.

Era uma vez em 1990, na cidade de Porto Alegre um guri magro e cabeçudo, louco por videogames (eu). Naquele ano passou um especial do Globo Repórter sobre os videogames, que começavam a virar uma mania nacional, e logo após esse programa meu pai me prometeu um Phantom System (um Nintendo 8 bits genérico, fabricado pela Gradiente). Estudei feito um alucinado, porém no final do ano meu pai não pôde me dar o tão sonhado videogame, pois havia acabado de adquirir um computador. Naquela época computadores ainda eram raros, só existiam em bancos e empresas. Para vocês terem idéia, no Departamento de Solos da UFRGS só existiam dois computadores, um na secretaria e outro para uso geral dos estudantes e professores (que tinham prioridade). Como o acesso aos computadores era algo extremamente restrito, muitos estudantes de doutorado compravam o seu próprio computador, a maioria clandestinamente (Paraguai, óbvio).

Naquela época imperava no Brasil a Lei de Informática, uma lei extremamente imbecil, que restringia a entrada de hardware importado (CPUs, monitores e outro periféricos) visando estimular o crescimento da indústria nacional, mas que ao mesmo tempo prejudicava quem dependia de computadores para trabalhar, ou seja, os consumidores. Essa cagada histórica resultou num enorme atraso para empresas, universidades, e outras entidades, quando teria sido mais interessante a criação e o desenvolvimento nacional de softwares adaptados para hardwares já existentes. Assim, as opções eram as seguintes: 1 – comprar um computador nacional como o Itautec, caríssimo e ineficiente; 2 – importar um computador dos E.U.A., caríssimo e super-eficiente; 3 – comprar um computador do Paraguai, com excelente custo-benefício, mas totalmente clandestino. Os Itautec da vida eram até atraentes, porém bastante inferiores aos computadores da época. Computadores potentes, importados dentro da lei, eram algo comum apenas para empresários ou gente podre de rica. Por sua vez, os computadores ilegais não pagavam impostos, assim eram acessíveis à pessoas comuns, como por exemplo, estudantes de pós-graduação.

O computador de meu pai era um PC AT 286 com 42 MB de HD e monitor CGA (preto e branco). Os monitores coloridos (trambolhos) eram caríssimos, coisa de 500 dólares na época, sendo que a maioria era importado (e tome taxa em quem se atrevesse a importar). Kit multimídia com CD e som digital ainda era novidade no Japão, por isso o som de nosso computador era o beeper, quase o mesmo que uma cigarra tentando imitar o som das coisas (horrível e saudoso). Não tínhamos mouse, algo também raro na época. Mesmo com todas essas limitações, era possível escrever textos (programa Wordperfect), calcular dados em planilhas (programa 1 2 3), desenhar (programa Havard Graphics) e imprimir textos e baners, pois tínhamos uma impressora Epson matricial que continua funcional até hoje. O engraçado é que a impressora fazia um barulho ensurdecedor e sempre que meu pai precisava imprimir algo ele fechava a porta do quarto e pedia para que cantássemos bem alto para que os vizinhos não escutassem a impressora trabalhando, pois poderiam denunciar à Receita que podia confiscar o computador de meu pai, prejudicando o seu doutorado. Resumindo, foram tempos engraçados.

Meu papel naquela época era ser o hacker, desbravador de comandos do DOS, que era o sistema operacional existente, aquela tela preta com um cursor piscando. Destemido, eu testava tudo pra ver até onde o computador agüentava. Não é preciso dizer que não demorou até eu tentar transformar o computador de meu pai num verdadeiro fliperama. Sanando a falta de meu videogame, meu pai conseguiu com colegas que viajaram ao exterior diversos jogos para PC, como Pac-man, Digger, Alley Cat, Tetris, Blockout, F-16 Combat Pilot, e muitos outros. Um dos que mais joguei foi o Grand Prix Championship Circuit, jogo de fórmula 1 sensacional que permitia pilotar 3 carros diferentes em campeonatos com os principais circuitos da fórmula 1 verdadeira, inclusive o GP Brasil. Eu era fera e sempre me sagrava campeão em todas as pistas.



Interface do sistema DOS: o usuário precisava ser quase um hacker pra usar um computador.



Grand Prix: muitas vitórias. Esse aí tá colorido, o meu era em preto e branco mesmo.

Outro jogo que fissurei foi Robocop. O jogo em si tinha gráficos horríveis e era extremamente difícil. No entanto a maior dificuldade era pra fazer o computador rodar o jogo. Como a memória do HD do computador era pequena (42 MB) eu tinha que usar disquetes. Nosso computador permitia uso de dois tipos: disquetinho (3½ polegadas e 1,44 MB de memória) e disquetão (5¼ polegadas e 0,36 MB de memória). Robocop era um jogo que cabia num disquetinho, porém como esses eram caros e restritos a meu pai. Assim, quando eu terminava uma parte do jogo o computador dizia “insira disco A”, “insira disco B” “C, D”... chegava uma hora que eu me atrapalhava todo com tanto troca-troca de disquetes (foda!). Dou risada quando me lembro de meu pai falando sobre a capacidade dos disquetes: “...com esse disquete você pode escrever mais de 100 páginas!!”, e eu dizia “...oh, que maravilha, né?”. Eu e cada uma de minhas irmãs tínhamos nosso próprio disquete, uma autonomia digital bem rudimentar. Precisa dizer que eu usava os disquetes delas também?


Disquetes de 5¼ e 3½ polegadas: quem não pegou essa época não sabe o que é sofrer 

No recreio da escola funcionava a máfia dos jogos piratas, uma das vantagens do computador em relação aos videogames. Se você tinha um jogo podia fazer uma cópia dele em disquete e trocar com os colegas por outros jogos mais legais e interessantes. O resultado: vírus, muitos vírus, e meu pai correndo com o computador para a manutenção antes que sua tese fosse prejudicada. Com os vírus controlados pelo Norton (já existia), voltei a utilizar o computador com mais receio. Foi nessa época que Luciano, um colega de meu pai mandou para mim um jogo imortal: Prince of Persia.


Prince of Persia: tão revolucionário que parecia um filme.

Prince of Persia foi um dos jogos mais revolucionários de todos os tempos, tanto pelo enredo que se passava na Pérsia antiga, como também pelos gráficos extremamente realistas que mais lembravam um filme, e pela música climática e efeitos sonoros realistas. Era diferente de tudo que eu já tinha jogado e até hoje me divirto jogando. O mais incrível é que o jogo inteiro cabia num disquete pequeno, sem dúvida o melhor aproveitamento de um disquete na história da computação. Esse jogo merece uma postagem especial, por isso, seguimos adiante...

Já no final do meu período em Porto Alegre, o segredo do computador foi revelado aos meus amigos do prédio (nossa, nunca tinha guardado um segredo por tanto tempo assim!). Um dos meus amigos, Felipe, havia ganhado um MSX, que era ligado na TV e aceitava tanto cartuchos como disquetes. Pra mim aquilo era uma revolução, pois o MSX embora fosse mais antigo que o PC, era mais versátil e claro, tinha muito mais jogos. O problema é que viciei no computador alheio... ae era aquele lance: "7:00 da manhã", "Ding-dong", "Bom dia Tia, o Felipe está?", "Ele está dormindo...", "Ótimo, vou acordá-lo agora mesmo"... e enquanto ele escovava os dentes e tomava seu café eu ia ligando o MSX e instalando os jogos. Passávamos o dia inteiro jogando, principalmente The Goonies, jogo que pouco ou nada tinha a ver com o filme do Spielberg.


MSX: tempos em que "morei" na casa de um amigo

Quando voltei pra Areia-PB em 1993, pouquíssimas pessoas tinham computador e menos ainda tinham jogos em seus computadores. Apenas quando reencontrei com Alamo, amigo de infância de retorno da Espanha, foi que tive acesso a jogos que conhecia apenas por revistas especializadas. O computador dele era um MITAC 386 com monitor SVGA (colorido) e 66 MHz (o meu era 20 MHz com "turbo"), uma máquina a frente da época e que depois foi vendida à uma mortuária (quê?). Dentre os tesouros trazidos da Espanha por Alamo se destacavam: Golden Axe (igual ao do Mega Drive), Turtles Arcade Game (o jogo de fliperama das tartarugas ninja), Simpsons (igual ao de fliperama), Indiana Jones e a Última Cruzada (adventure da Lucas Arts), Maniac Mansion (pai dos adventures da Lucas Arts) e STUNTS (jogo de corrida em 3D). Cada jogo teve sua particularidade especial, porém o mais incrível é que eram originais, com encartes coloridos e alguns traduzidos para o espanhol. Essa última característica foi um pouco frustante pra mim, pois eu havia me acostumado com jogos em inglês (sempre com dicionário ao lado do PC).



Maniac Mansion em espanhol: meus games viraram juegos.

Com o tempo o computador de casa foi ficando defasado, incapaz de rodar o Street Fighter 2 que eu conseguira em primeira mão com Silvino, amigo areiense mais fissurado em computadores naquela época. Meus colegas de escola Damy e Tassiano já desfrutavam do Windows 3.1, enquanto eu me prendia ao ultrapassado DOS e seus comandos mirabolantes. Finalmente em 1996 meu pai substituiu nosso computador por um AMD K6 e vieram tempos de monitor colorido, Windows 95, 98, dias inteiros jogando Age of Empires. Naquele mesmo ano meu pai instalou nosso antigo computador 286 no laboratório da faculdade para gerar planilhas, formatar disquetes e outras coisas banais. Em pouco tempo ele foi encostado e nunca mais foi usado. Nesses dias me bateu uma saudade daqueles tempos antigos e uma dúvida ficou martelando... será que ele ainda roda Prince of Persia?



Quer entender resumidamente a cronologia dos computadores? Visite esse site: http://www.netangola.com/CCA/pages/marks/computador/parte4.htm

Quer entender sobre a Lei de Informática? Leia na íntegra esse artigo científico: http://www.scielo.br/pdf/gp/v11n2/a04v11n2.pdf