sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Desastre de Chernobyl


Sempre tive curiosidade a respeito do acidente de Chernobyl, porém as informações disponíveis em muitos anos eram escassas e desencontradas. Atualmente, a internet dispõe de um material excelente e detalhado sobre as causas e conseqüências do acidente. Dentre os quais, recomendo o documentário O Desastre de Chernobyl (The Battle of Chernobyl), que é sem dúvida, impressionante.

Entrada de Prypiat: terra de ninguém

Chernobyl é uma cidade que fica na Ucrânia, parte da antiga União Soviética. Para os russos a energia nuclear tem uma grande importância, possibilitando o suprimento de energia em qualquer ambiente. Numa bomba atômica convencional o material nuclear de altíssima pureza (enriquecido) é implodido com auxílio de explosivos convencionais gerando uma reação em cadeia fora de controle (a explosão nuclear). Já num reator nuclear para produção de energia elétrica, o material nuclear é consumido em formas de pastilhas com menor grau de pureza numa reação controlada por diversos equipamentos (principalmente hastes de grafite) gerando calor, que é convertido pelo vapor de água em energia mecânica, e esta, através de um alternador é convertida em energia elétrica. Na noite do dia 26 de abril de 1986, um teste de redução de energia combinou erros humanos com deficiências do equipamento, resultando numa explosão do reator 4 da usina, matando instantaneamente vários funcionários, destruindo a cúpula de 1.000 toneladas e liberando uma enorme quantidade de material radioativo para a atmosfera.


Simulação da explosão do reator 4

O documentário mostra como isso ocorreu e todo o mistério que se desenvolveu em seguida. Passaram-se várias horas sem ninguém resolver absolutamente nada. Nem o governo sabia ao certo sobre o acidente. Informações desencontradas e o sigilo absoluto dos soviéticos agravavam a situação. Muitos dos técnicos e políticos se preocupavam apenas em restabelecer o fornecimento de energia, sem compreender a gravidade do acidente. Enquanto isso, a radiação contaminava o meio ambiente, as cidades e as pessoas. Durante a manhã do dia seguinte um cinegrafista a bordo de um helicóptero conseguiu filmar rapidamente o tamanho da destruição, inclusive o magma radioativo derretendo tudo dentro do reator. Em seu testemunho ele afirmou que depois da filmagem a câmera apresentou defeitos, resultados da radiação que chegava até o helicóptero.


Helicóptero se dirigindo à usina no dia seguinte ao acidente

Centenas de bombeiros foram recrutados para conter o fogo do reator. Pilotos militares também ajudavam lançando sacos de areia e chumbo com auxílio de helicópteros diretamente no reator. Cerca de 3 horas depois esses bombeiros e pilotos chegavam ao hospital enjoados, com fortes dores de cabeça, seguidas de vômitos e convalescença. Seus cabelos começavam a cair e logo em seguida eles morriam. A triste ignorância quanto aos perigos da exposição radioativa foi decisiva para comandar o esforço desses homens. Foram centenas de jovens heróis!

Medalha concedida aos liquidators: partículas alfa,
beta e gama em frente à gota de sangue

Paralelamente, era realizada a evacuação de mais de 200.000 civis em ônibus, deixando tudo pra trás, casas, apartamentos, pertences, vidas inteiras construídas sob aquele lugar. A cidade de Chernobyl e Prypiat, outra cidade mais populosa e vizinha à usina nuclear hoje em dia são cidades fantasmas, congeladas no tempo, onde agora a natureza tomou conta com árvores crescendo no meio das ruas e florestas em campos de futebol. O documentário da BBC O Mundo Sem Ninguém (Life After People, 2009) faz uma visita às cidades e mostra cenas fantasmagóricas, de um parque de diversões que nunca fora inaugurado, apartamentos e casas abandonadas, enfim um lugar impróprio para a habitação, pelo menos nos próximos 900 anos. Em outra ocasião comentarei esse documentário imperdível.
Voltando ao acidente, as cerca de 5.000 toneladas de material jogados no reator na tentativa de extinguir o fogo trouxeram um novo problema: o peso do material e a destruição provocada pelo magma nuclear ameaçavam a fundação do prédio do reator e isso poderia contaminar uma rede de aqüíferos enorme, comprometendo não somente a União Soviética, como também grande parte da Europa. A solução foi recrutar mineradores de todos os lugares da União Soviética para construir uma barreira de contenção no subsolo da usina e drenar a água contaminada das camadas superiores. Para isto, eles tiveram de escavar um saguão enorme, num ritmo alucinante, sob ameaça de desmoronamento, temperatura de até 50 graus Celsius e claro, recebendo altas doses de radiação.

A cidade fantasma de Prypiat, evacuada às pressas há 20 anos atrás.


O parque não-inaugurado, ônibus enferrujado,
brinquedos e escolas abandonados: desolação



Restava fazer a limpeza do teto da usina, que continha destroços e resíduos altamente radioativos. Inicialmente, usaram robôs comandados por controle remoto, no entanto os robôs começavam a falhar, certamente por danos radioativos nos seus circuitos. A solução foi desesperada, voluntários seriam usados para limpar o teto da usina. Conhecidos como liquidators, esses “bio-robôs” (apelido dado pelos militares) vestidos com pesadas roupas de chumbo e máscaras, só podiam ficar no teto da usina por 40 segundos, tempo a partir do qual as doses de radiação poderiam ser fatais. Foram milhares deles se revezando na missão. Em entrevista, um dos liquidators afirmou que durante o trabalho no teto da usina sentia um gosto de metal na boca, como um sinal de que a radiação já estava afetando o seu corpo. Muitos afirmaram que sabiam o risco que estavam correndo e devolviam a pergunta “Se não fossemos nós, quem seriam?”. Atualmente, os últimos liquidators ainda vivos reivindicam do governo a pensão e melhores condições para o tratamento de diversas doenças causadas pela radiação, principalmente o câncer.


A fonte do perigo: o reator 4 antes e depois de ser lacrado pelo "sarcófago" de concreto e metal, hoje bastante deteriorado



O último ato foi a conclusão da estrutura que selou o reator 4, conhecida como “sarcófago”. Foi uma celebração diante de um desastre que consumiu vidas humanas e 200 bilhões de dólares em esforços para contê-lo. Por outro lado, a contaminação radioativa perdura pela fauna, flora, aqüíferos e solos da zona de exclusão. Curiosamente, com a ausência dos humanos a fauna prosperou em quantidade e diversidade, sinal de esperança numa terra devastada. Poucas pessoas permanecem na zona de exclusão, a maioria são idosos de vilas próximas, técnicos, seguranças, pesquisadores e, por incrível que pareça, turistas. Sim, agências de turismo de Kiev oferecem pacotes completos, incluindo transporte até a zona de exclusão, tour pela cidade abandonada, permissão militar para entrada nas proximidades da usina (fotos com o reator 4 à distância são comuns) e garantia de retorno seguro até às 18h para o jantar. Eu não vejo nada de bizarro nisso, afinal a curiosidade humana não tem limites. Os destinos mais comuns do turismo sempre foram ruínas, logo, Chernobyl e Prypiat não deixam de ser “ruínas modernas”, com escolas abandonadas e suas propagandas estimulando as crianças soviéticas para a vida de trabalho, anfiteatros, centros culturais e parques de diversões enferrujados, tomados por plantas.



Turismo nas ruínas de Chernobyl: curiosidade sem limites



A roda-gigante que jamais rodou: símbolo pós-apocalíptico de Chernobyl 



Gostaria de fazer uma pergunta aos leitores: o que vocês acham das usinas nucleares brasileira Angra 1 e Angra 2? Vocês acham que o Brasil precisa da energia nuclear? Com certeza esse tema é polêmico, engloba vantagens e desvantagens de todas as tecnologias energéticas dentro de um contexto ecológico que está sempre em choque com o progresso (ou ganância) humanas.
Sou a favor da energia nuclear quando vejo o Brasil sendo ridiculamente manipulado na importação do gás-natural da Bolívia. Também sou a favor quando penso que a implantação de grandes hidrelétricas alaga ecossistemas e desloca pessoas de suas moradas. Por outro lado, sou contra a dependência de tecnologias importadas em detrimento de investimentos no nosso material humano. A usina de Angra 3 está em plena construção e eu não lembro de nenhum debate recente sobre o tema energia nuclear. Vai ver, ninguém comenta por que não entende, ou a memória de Chernobyl já foi apagada há tempos, junto com as luzes da usina.

Quer assistir o documentário? Entre nesse site e baixe o arquivo e tenha uma boa seção de conhecimento http://www.megaupload.com/?d=EOMMWCSM (obs.: este blog não hospeda filmes ou mídias detentoras de direitos autorais, apenas indica sites onde os mesmos foram hospedados, assim não me responsabilizo por problemas desta natureza)


Quer saber mais? O Wikipédia permite informações e detalhes razoáveis, sendo que a versão em inglês é mais confiável, por ser atualizada constantemente http://en.wikipedia.org/wiki/Chernobyl_disaster


Veja fotos atuais das cidades de Chernobyl e Prypiat tiradas por turistas:
http://www.flickr.com/groups/chernobyl-2/pool/


Que ir lá? Então entre neste site e faça a sua reserva, mas não esqueça de levar seu contador Geiger para medir a radiação dos lugares onde você vai pisar: http://www.tourkiev.com/chernobyl.php










6 comentários:

  1. Adorei o artigo, muito bacana e enriquecedor. Lembro de um documentario ou filme (n lembro direito)sobre as bombas de Hiroshima e Nagasaki que mostrava os efeitos devastadores da radiacao sobre os seres humanos pegos de surpresa, ainda fico chocada com desastres assim. Nao concordo com o uso da energia nuclear, acredito que o homem ainda nAo sabe manipular direito esse material perigoso, principalmente os brasileiros, percebe-se pelos vazamentos de petroleo que acontecem na petrobras. Existem outras saidas.

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  2. Oi Luis,

    Antes queria falar da sua afirmação, "Os destinos mais comuns do turismo sempre foram ruínas,logo Chernobyl e Prypiat não deixam de ser "ruínas modernas"", achei muito inteligente.

    Então Luis, quanto a construção de mais usinas nucleares no Brasil, bom, não vejo com bons olhos, fico com o pé atras.

    Como a gente sabe, muito no Brasil é mal feito (só pra inglês ver) e/ou não é fiscalizado, por isso acho que as uninas de Angra (I,II e III) já estão de bom tamanho.

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  3. Olá...

    Não conhecia a história, mas agora, com os acontecimentos do Japão fiquei interessado no assunto. Resolvi procurar no YOUTUBE algo relacionado à RADIOATIVIDADE. Bem, fiquei supreendido com um documentário que vi à respeito do maior desastre envolvendo acidente nuclear na União Soviética - Ucrânia. Se quiser entender sobre Radiação e do quê ela é capaz de fazer, assistam O DESASTRE DE CHERNOBYL; vão saber na prática o que significa uma Usina Nuclear e os riscos que ela apresenta. PARABÉNS PELO BLOG.

    Att,

    Anônimo 1.

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  4. Literalmente, não pensei em outra coisa além de Chernobyl e Prypiat, depois do tsunami no Japão do dia 11 de março.. Pesquisei absolutamente TUDO sobre o assunto e fiquei chocada com tamanhas proporções desse acidente, vidas tomadas, cidades evacuadas e pessoas sofrendo efeitos da radiação até hoje. Fiquei mais curiosa ainda, tenho vontade de, um dia, visitar essas cidades-fantasma, congeladas pelo tempo e estampadas em cada foto, a dor das pessoas em terem que abandonar suas vidas, casas... Sou completamente contra o Uso da Energia Nuclear, por ser uma energia não-renovável, se temos tantas outras opções que não oferecem riscos à vida humana, das florestas e animais, ou seja, da vida no planeta.. ''Eles'' só vão parar de mexer com isso quando não houver mais solo fértil, água pura pra beber.. E não houver mais espaço para colocarem lixo radioativo.

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  5. E ahh.. Parabéns pelo Artigo! Ficou excelente e muito bem detalhado..
    Beijos :*

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  6. Nossa,muito bom o artigo me ajudou bastante na minha pesquisa :D

    Bjs ;*

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