Ir ao espaço sempre foi o sonho de muitas pessoas, eu inclusive. Durante décadas, essa possibilidade era delegada às pessoas com currículo militar ou científico invejáveis, condicionamento físico perfeito, frieza e equilíbrio psicológico, e claro, muita sorte. Enfim, apenas seres humanos excepcionais tinham o privilégio de ver lá de cima o mundo que Deus fez pra nós.
Agora seus problemas acabaram! Desde 2001, a empresa norte-americana Space Adventures vende viagens e estadia de 10 dias na Estação Espacial Internacional (ISS, sigla em inglês) para turistas espaciais, inicialmente pela bagatela de 20 milhões de dólares, e ultimamente por 35 milhões de dólares. Achou caro? Pare e pense: quanto vale um sonho?
Estação Espacial Internacional (ISS): 35 bilhões de dólares flutuando no espaço
Ao contratar a Space Adventures, o turista espacial entra numa fila disputada por outros milionários, e assim que é autorizado, inicia um treinamento intensivo de 6 meses na Cidade das Estrelas, região à nordeste de Moscou, onde fica o Centro de Treinamento Yuri Gagarin (nome em homenagem ao primeiro homem a ir ao espaço). Esse treinamento inclui testes de aptidão física (pressão, força G, resistência), testes psicológicos (ação em situação de perigo e estabilidade emocional), testes em simuladores (modelos das espaçonaves, simulação de gravidade zero), teste de sobrevivência (necessário caso a espaçonave pouse em lugar remoto) e também idioma russo (parte mais difícil...). Habilitado para a viagem, o turista espacial participa de diversas solenidades públicas, como por exemplo, visitas aos túmulos de mentores do Programa Espacial Soviético, estátuas de cosmonautas e à sala intacta de Yuri Gagarin. O turista espacial também participa de rituais de homenagem à figura de Gagarin, tradição desde o primeiro vôo espacial: assistir "O Sol Branco do Deserto", filme sobre a revolução bolchevique que Gagarin assistiu antes da viagem; e urinar na roda do ônibus que leva os cosmonautas ao foguete, ato de Gagarin diante do perigo da primeira viagem espacial (na minha opinião uma mistura de heroísmo com suicídio).
Lançamento do foguete e a Soyuz em órbita
Hora de voar! O turista espacial viaja a bordo da espaçonave Soyuz, concebida inicialmente para levar os russos para a Lua. Em atividade há 40 anos, a Soyuz possui 7,2 metros de comprimento por 2,7 metros de diâmetro, sendo composta de três compartimentos: módulo orbital (onde a tripulação fica durante a viagem), módulo de reentrada (usado apenas na subida e na descida) e módulo de serviço (instrumentação e suporte de vida). Ela tem capacidade para 3 tripulantes, no caso dois cosmonautas e um turista. Em órbita, a viagem até a ISS dura cerca de 2 dias, tempo suficiente pro turista espacial esticar as pernas e apreciar a paisagem, mas ainda sem muito conforto. É como viver 2 dias dentro de um carro fechado com mais 2 pessoas.
Soyuz atracada na ISS e o espaço interno da espaçonave: 2 dias num fusca
Ok, já chegamos! A Soyuz acopla na ISS e enfim o turista espacial chega a seu destino: uma instalação de 300 toneladas, espaço interno de 358 metros quadrados, voando há 360 km de altitude e que custou mais de 35 bilhões de dólares aos cofres dos EUA, Rússia, Japão e diversas outras nações, incluindo uma pífia participação do Brasil. Durante a estadia na ISS o turista pode apreciar e registrar diversas paisagens terrestres, transmitir imagens e mensagens às pessoas na Terra e realizar experimentos científicos para aproveitar o tempo. Tem sido cogitada a oferta exclusiva de caminhadas espaciais, ou seja, quando os astronautas saem da estação com seus trajes espaciais para dar umas voltas e apreciar uma visão única e esplendorosa da Terra (custará apenas 15 milhõezinhos, uma merreca...). Terminada a estadia, o turista espacial volta na mesma nave que o trouxe, porém, com outros cosmonautas devido à troca de equipe. A volta para casa é mais rápida: o módulo de descida da Soyuz faz a reentrada na atmosfera (momento crítico onde a nave praticamente pega fogo como um meteoro), abre os pára-quedas e nos segundos finais liga os motores para um pouso suave nas planícies do Cazaquistão. Uma equipe de busca é enviada e o turista levado junto aos demais cosmonautas para o Centro de Treinamento Yuri Gagarin para exames e demais formalidades.
O pouso da Soyuz e o resgate
E o que fica? O nome na história, lembranças cravadas na memória, uma experiência real do treinamento e da vida no espaço, a chance de inspirar os jovens na persistência de seus sonhos, de chamar atenção para causas humanitárias ou também promover um produto, claro, turista espacial não é bobo. Todos os turistas que já foram (7 até o presente momento) comentaram que valeu cada centavo dos milhões investidos, e um deles conseguiu a proeza de viajar como turista duas vezes. Abaixo uma pequena nota sobre cada um deles:
Dennis Tito (EUA, 2001): trabalhou um tempo na NASA, tornou-se multimilionário com a administração de empresas e foi o primeiro turista espacial da história.
Anousheh Ansari (Irã, 2006): primeira turista espacial feminina, foi estudar nos EUA pois no Irã não era permitida, formada em engenharia elétrica e computação, empresária e maior patrocinadora do prêmio Ansari X Prize que destinou 10 milhões de dólares para a primeira nave civil que chegasse ao espaço (isso vale outro tópico...) e agora patrocina outros desafios. Sua família investe em empresas que tornem o turismo espacial uma realidade ao redor do mundo. É inspiração para as mulheres e jovens e para empresas que buscam investir em tecnologia aeroespacial.
Richard Garriott (Inglaterra, 2008): empresário e criador de games, é filho de um astronauta.
Mark Shuttleworth (África do Sul, 2002): programador de computadores que ficou milionário ao vender sua empresa de segurança de internet, atualmente trabalha promovendo softwares livres.
Gregory Olsen (EUA, 2005): empreendedor e cientista, dono de uma empresa de desenvolvimento de material óptico-eletrônico, dá palestras para motivar crianças de minorias étnicas para seguirem carreira na ciência.
Charles Simony (Hungria, 2007 e 2009): é o sortudo que foi duas vezes, programador da Microsoft, amigo de Bill Gates famoso por ter criado a notação húngara. O site dele é bem bacana.
Guy Laliberté (Canadá, 2009): artista circense, fundador e diretor do Cirque du Soleil, conhecido como o palhaço espacial pelas fotos com nariz de palhaço na ISS. Administra a One Drop, fundação que utiliza das artes para promover o uso sustentável da água e o acesso igualitário de água e alimentos para comunidades.
Como se percebe, o turismo espacial ainda não é para todo mundo. Entretanto, a maioria desses primeiros turistas espaciais está envolvida em ações concretas para torná-lo viável em médio prazo. Pra quem se interessou, a Space Adventures oferece os seguintes serviços: os mais baratos são os simuladores da Soyuz e ISS na Rússia, e os vôos de gravidade zero (em aviões quando eles fazem mergulhos demorados) por cerca de 5.000 dólares; o melhor custo-benefício é o vôo sub-orbital (100 km de altitude), numa pequena aeronave onde é possível ver a Terra do espaço e experimentar minutos de gravidade zero por cerca de 100.000 dólares (já existe uma fila imensa); o serviço vip que é o vôo orbital com estadia na ISS, comentado nesse tópico e que sai por 35 milhões de dólares. Agora se o que você quer mesmo é ir à Lua, tudo bem, por cerca de 100 milhões de dólares você pode reservar seu passeio. É sério! Trata-se do projeto de turismo mais ambicioso da história. Como comentado a espaçonave russa Soyuz foi concebida para levar os russos à Lua. A idéia seria lançar dois foguetes, um com a tripulação e outro com um módulo especial que acoplado no espaço levaria dois turistas e um cosmonauta ao redor da Lua para algumas órbitas e em seguida retornaria à Terra. Os turistas espaciais terão seus nomes registrados na história como os primeiros civis a viajarem ao redor da Lua, o mais longe possível da civilização. Por enquanto esse serviço não foi disponibilizado pois envolve um custo elevado no desenvolvimento de novas tecnologias, planos soviéticos estagnados desde a Guerra-fria. Quem sabe será algo concreto dentro dos próximos 10 anos.
Quem será o primeiro turista lunar?
Minha opinião final é que considero o turismo espacial como uma possibilidade incrível para pessoas que sonham em ir ao espaço e ao mesmo tempo um mercado cujo lucro a médio e longo prazo serão maiores do que qualquer empreendimento já realizado. O que estamos vendo agora é apenas o início de uma nova era na exploração do espaço, que sempre esteve lá, esperando para ser desvendado.
Quer ir ao infinito e além? entre no site da Space Adventures e dê uma olhadinha nas "ofertas"
http://www.spaceadventures.com/index.cfm
http://www.spaceadventures.com/index.cfm
Deseja saber mais sobre a experiência como turista espacial? então siga o link pro site do Charles Simonyi, o sortudo que foi duas vezes http://www.charlesinspace.com/
Quer saber mais? o wikipedia em inglês dá uma idéia da coisa
Um dia tudo será barato, ir a lua será como pegar um trem, mas até lá!!
ResponderExcluirGrande post!!